20 de dez. de 2012

"O dia da Novidade" - J.M. Jenkins sobre T. Mckenna



Terence McKenna foi um brilhante orador e celebridade pop que colocou-se audaciosamente em primeiro plano como defensor das drogas psicodélicas. Tendo nascido no Colorado e atingido a maioridade na déca­da de 1960, em Berkeley, na Califórnia, McKenna concluiu em 1969 o bacharelado em ciências, com especialização em ecologia e conservação no Tussman Experimental College, uma extensão da UC Berkeley que teve vida curta. Em seguida viajou extensamente pela Índia, pelo Sudeste Asiá­tico e pela América do Sul em busca de xamãs e plantas alucinógenas. O termo "drogas psicodélicas" é enganador. Terence defendia uma maior so­fisticação na maneira como as drogas são categorizadas e discutidas. De­sempenhou um papel de formação em um novo campo de estudo chamado etnomicologia, o estudo da interação entre cogumelos psicoativos, a cultu­ra e a consciência humana.
A mente poderosa e abrangente de Terence possibilitou que ele fun­cionasse em muitos níveis. Ele era ao mesmo tempo filósofo visionário, etnomicologista pioneiro, preservacionista botânico, orador de improviso, escritor, trovador do logos, explorador do mundo e xamã das esferas inte­riores. O seu trabalho merece uma abordagem abrangente, que não posso empreender aqui, mas ao nos concentrarmos na sua teoria da Novidade[1] conseguiremos entender o seu trabalho com 2012 e como várias ideias se tornaram firmemente agregadas a 2012. Em The invisible landscape, livro que Terence escreveu e publicou junto com o seu irmão Dennis em 1975, tomamos conhecimento da singular experiência que eles realizaram na Colômbia em 1971. Essa experiência deu origem à elaboração da teoria da Novidade. Os irmãos McKenna tinham viajado com vários amigos para a Colômbia em busca de uma exótica planta alucinógena chamada uruqué. Em vez dela, encontraram campos de cogumelos que continham psilocibina.
Depois de passar várias semanas excursionando e colhendo amostras, Dennis elaborou um plano experimental: em uma determinada noite, eles comeriam os cogumelos e Dennis induzia um salto visionário cantarolando vigorosamente, de boca fechada, em um tom agudo. O catalisador vibrató­rio do zumbido, teoricamente, o abriria para memórias coletivas e verdades universais que supostamente residem no DNA. Esse era o plano. Terence narra a experiência em La Chorrera no seu livro True hallucinations, publi­cado em 1993:
                                                      
Enquanto eu observava a minha mente e ouvia os sons ininteligíveis do meu irmão, comecei a compreender que a experiência havia desencadeado uma espécie de efeito estranho. Pergunto a mim mesmo por que foi tão fácil para mim saltar da idéia de que estávamos tendo uma experiência localizada peculiar para a de que éramos partes importantes de um fenômeno de âmbi­to planetário?... A alucinação induzida pela psilocibina fez com que o im­possível e o improvável parecessem prováveis e razoáveis. Fui invadido pelo êxtase quando me dei conta de que tínhamos cruzado o ponto Omega, que estávamos agora funcionando nos primeiros momentos do milênio.

Deve ser difícil para o não iniciado digerir o que se passa dentro dos desbravadores que avançam trôpegos pelo território inexplorado da Mente. Mas o fato é que alguma coisa de fato aconteceu, e embora Dennis acabas­se abandonando a sua viagem alucinógena, Terence foi lançado em uma dança contínua com o I Ching (um antigo oráculo chinês), desenvolvendo o seu conteúdo secreto por meio de operações matemáticas inspiradas pelos lampejos intuitivos que ele estava recebendo por intermédio dos cogumelos. O I Ching lhe pareceu conter antigas ideias sobre a natureza do tempo. Terence encontrou idéias correspondentes na obra do filósofo Alfred North Whitehead, cujo termo "concrescência" se encaixava perfeitamente no que Terence estava vendo, alguma coisa na natureza do tempo que fazia com que eventos desconexos ao longo da história se acelerassem e conver­gissem em um momento preciso no futuro não muito distante. Essa con­vergência totalizada tornaria imanente, ou revelaria no agora, o eschaton, o "objeto transcendental no final do tempo". O termo eschaton deriva de pes­quisas do Oriente Médio relacionadas com a escatologia, o estudo dos finais últimos de todas as coisas.
Terence apresentou a ideia de que o tempo não é uma constante e que possui diferentes qualidades que tendem ou para o "hábito" ou para a "no­vidade". Essa ideia contraria uma premissa fundamental da ciência ociden­tal, ou seja, de que a qualidade do tempo é constante. Uma experiência realizada na terça-feira deve ter o mesmo resultado que uma experiência idêntica realizada na sexta-feira, desde que todas as outras condições per- maneçam as mesmas. A fluidez do tempo e o avanço de ocorrências novas ou originais eram o que interessava a Terence e a sua percepção de que a novidade estava aumentando com o tempo envolvia algo profundo: o tem­po e a história estavam se acelerando e aproximando-se de um ponto cul­minante. De acordo com os antigos taoístas chineses, a mudança talvez seja a única constante na natureza, mas a mudança estava se acelerando.
Ao longo de um inspirado período de pesquisas no início da década de 1970, Terence formulou uma forma de onda matemática baseada nas 384 linhas de mutação que formam os 64 hexagramas do I Ching. Cada um dos 64 hexagramas contém seis linhas, cada uma sendo inteira ou in­terrompida. Quando consultamos o I Ching como um oráculo tradicional, construímos sequencialmente essas linhas binárias de baixo para cima. Quando terminamos, podemos procurar o nosso hexagrama no I Ching: o livro das mutações e consultar a interpretação. A sequência na qual os 64 hexagramas estão ordenados, conhecida como sequência do Rei Wen, parece aleatória, mas Terence fez uma análise do "grau de diferença" entre cada hexagrama sucessivo e encontrou uma anomalia estatística que suge­re que, por alguma razão, a sequência Ken Wen era um constructo inten­cional. Com os graus de diferença codificados em valores numéricos, Te­rence foi capaz de traçar uma onda, que se tornou a Onda do Tempo da Novidade.[2] O seu amigo Peter Meyer elaborou a fórmula e o software de computador, possibilitando que eles a colocassem em gráfico e investigas­sem a sua dinâmica.
Terence observou que a onda do tempo exibia uma qualidade de "se­melhança idêntica". Ela se expandia como um padrão fractal no qual se constatava que a forma de uma pequena seção considerada da onda era idêntica à forma de uma seção maior da onda. Como a onda exibia o fluxo e refluxo da novidade dentro do tempo, Terence chamou essa modelagem fractal do tempo de Ressonância Temporal. Significava que intervalos maiores, ocorridos havia muito tempo, continham a mesma quantidade de informações que intervalos mais curtos, mais recentes. A história estava sendo compactada, estava avançando mais rápido. E o processo tinha que ter um fim.
A analogia de Terence com o jogo de tetherball descreve habilmente o processo de aceleração: uma bola amarrada a um poste vai girar bem devagar, mas à medida que a corda for se enrolando em volta do poste e a bola ficar mais perto dele ela começa a girar cada vez mais rapidamente. Quanto mais próxima do centro a bola vai ficando, mais rapidamente ela é puxada na direção dele. O ponto central é quando a bola teoricamente atinge uma velocidade infinita. Na verdade, a forma de onda matemática não descreve realmente uma aceleração constante; o padrão staccato ascendente e descendente da onda implica uma contínua flutuação entre o hábito e a novidade. No entanto, a cada iteração a onda se inclina na direção da infinita inovação. A tendência da média aritmética é de crescente novidade, vivenciada como uma mudança acelerada. Uma das exigências da teoria da Novidade é, por­tanto que a inovação infinita será alcançada em uma data específica.
Terence desconfiava que seria possível identificar eventos notáveis na história que o ajudariam a localizar a data final da onda do tempo. Tomou a explosão atômica de 1945 como um evento extremamente inovador na história humana e o sinal de que uma fase final havia começado, um sub-padrão fractal de 67 anos da totalidade da onda. Desse modo, somou 67 a 1945, e 2012 foi um possível ano-alvo. O crescimento populacional, o pico do petróleo e as estatísticas da poluição apontavam para o início do século XXI. Em The invisible landscape, Terence menciona o ano de 2012, mas não aprofunda o nível de precisão. Mais tarde admite que o seu cálculo original tinha sido 17 de novembro de 2012, mas depois de tomar conhecimento do calendário maia e da data final de 21 de dezembro reajustou a forma da onda e constatou que 21 de dezembro era uma data ainda mais adequada. Assim sendo, o modelo de Terence ficou para sempre correlacionado com a data final do ciclo de 13 Baktuns do calendário maia de Conta Longa.
Embora Terence mencionasse às vezes os maias em vários contextos, em geral devido ao xamanismo psicoativo deles, o fato de a sua Onda do Tempo também apontar para o término do ciclo do Conta Longa maia foi meramente uma confirmação que apoiava a sua teoria. Ao refletir certa vez sobre o tema, Terence observou que tanto ele quanto os maias eram entu­siastas dos cogumelos com psilocibina e se perguntou se, de alguma manei­ra, isso poderia explicar por que tanto o seu sistema quanto o calendário maia apontavam para 2012.
Nas centenas de entrevistas e discursos gravados de Terence, muitos dos quais estão livremente disponíveis na internet, encontramos escassos detalhes a respeito do calendário maia. Na realidade, a extensão do ciclo de 13 Baktuns é erroneamente informada como sendo de 5.128 ou 5.200 anos. Os motivos pelos quais o calendário maia aponta para 2012 não estavam entre as coisas que ele pesquisava. No entanto, o alinhamento precessional do Sol da galáxia (o alinhamento galáctico) estava presente em The invisible landscape, mencionado de uma maneira breve e indireta. Na sua introdução ao meu livro Maya Cosmogenesis 2012, Terence apro­veitou a oportunidade para oferecer detalhes sobre uma recomendação sua no sentido de que fosse feita uma investigação adicional do alinhamento galáctico:

Existe alguma base científica para a idéia de que quando o amanhecer do solstício do inverno "se postar no centro galáctico poderão ser esperados efei­tos físicos incomuns? Hoje a ciência responde com uma negativa. Entretan­to a ciência, ao contrário da religião, está sempre crescendo, revisitando e revendo as suas simplificações passadas... O destino humano e o drama mais amplo da galáxia estão de alguma maneira interligados? Pode ser difícil provar a existência de mecanismos acoplados, mas a elucidação de mecanismos sutis de acoplamento é o que a nova ciência da dinâmica está destinada a fazer.

Como acontece com tanta frequência no processo por meio do qual as ideias se transformam em avanços revolucionários, a chave para o enten­dimento de 2012 foi observada mais cedo como uma singularidade, mas foi desconsiderada. Afinal de contas, alguém poderia notar tanto o alinhamen­to quanto a data final, mas não acreditar que eles estivessem próximos o suficiente um do outro no tempo. Essa seria uma conclusão à primeira vista que, depois de uma certa reflexão, poderia ser descartada, principal­mente porque o alinhamento poderia ser concebido como um intervalo que se estende ao longo de pelo menos 36 anos.
Além disso, como seria possível provar que os maias tinham a intenção de que a sua data final tivesse como alvo o alinhamento? Esse simplesmen­te não era um tema que Terence estava interessado em desenvolver; ele requer um envolvimento a longo prazo com uma cuidadosa pesquisa de muitas áreas diferentes do pensamento e da tradição maias. Entretanto, os meus interesses iriam se encontrar com esse conceito do alinhamento e, em 1992, eu já estava envolvido com ele. E Terence tem o mérito de ter esti­mulado o meu trabalho, embora eu questione o seu requisito de que algo drástico e repentino deverá ocorrer no dia 22 de dezembro de 2012. (Te­rence frequentemente usava 22 de dezembro, talvez porque esse seria o "primeiro" dia da nova era.)
Outra idéia que propus a Terence nas nossas conversas — e ele esta­va sempre disposto a discutir ideias — baseia-se na noção de que o fluxo do tempo é subjetivo. A nossa experiência do tempo, rápida ou lenta, é função do nosso estado mental na ocasião. Esse fato pode ser observado nos relatos das pessoas mais velhas, para quem o tempo parece passar muito depressa. Quantas vezes a vovó não disse: "Nossa, parece que acabei de acordar e já está na hora de ir para a cama" ou "Parece que o Natal passado foi ontem!"
Existem razões neurológicos genuínas para essa experiência das pessoas idosas, baseadas no processamento de informações sináptico do cérebro, que se desacelera com a idade. Poderíamos dizer que a largura de banda se estreitou e, portanto, os eventos (tempo) precisam passar através de um canal menor. A consciência restringida dessa maneira sente que o tempo está passando mais rapidamente. Os visionários que experimentam o êxta­se, contudo, passam por um processamento cerebral mais elevado e intenso, uma dilatação da largura de banda, o que resulta em uma desaceleração do tempo. Quando essa desaceleração é tão intensa que a experiência do fluxo do tempo cessa, a porta para a eternidade se abre. Eternidade não é um longo período de tempo e sim a cessação do tempo.
O estado de estar profundamente apaixonado oferece outro exemplo. Quando duas pessoas estão tendo uma experiência de pico íntima, o cora­ção e a mente (até mesmo os olhos) se dilatam. Pode ser uma experiência profunda na qual, ambas sentem que ingressaram, juntas, em um refúgio sagrado e detectaram um vislumbre da eternidade. Esta última é a expe­riência da cessação da passagem do tempo, tempo que foi desacelerado porque a mente e o coração estavam completamente abertos ao amor. A expansão da consciência que frequentemente ocorre após a ingestão de plantas psicoativas também pode proporcionar a experiência de vislumbrar o infinito ou a eternidade, como informaram os que passaram por ela. Nas antigas religiões de mistério, a experiência era uma iniciação nos Mistérios eternos.
Descrevo a seguir a experiência de pensamento que compartilhei com Terence. Imagine que a sua consciência é uma mangueira de jardim. Uma mangueira com um diâmetro maior significa uma consciência mais ampla. A água que flui através da mangueira representa eventos que ocorrem no tempo. O volume de água que deseja passar através da mangueira represen­ta o número de eventos que estão passando pela mente. Mesmo que essa quantidade permaneça constante, a velocidade na qual a água passa através da mangueira (a mente) depende do quanto a mangueira está dilatada ou comprimida. (Se apertarmos a extremidade da mangueira, a água flui mais rapidamente e com mais força.) Esse modelo propõe que a nossa mente determina se o tempo se acelera ou não.
A aceleração do tempo pode não ser uma propriedade inerente da história, a consequência necessária da passagem do tempo, podendo também ser o resultado de uma crescente contração da consciência. Essa ideia ad­quire significado se considerarmos a antiga doutrina hindu das Eras do Mundo, as Yugas, na qual cada Yuga sucessiva se caracteriza por uma diminuição da espiritualidade, uma contínua restrição da consciência. O tempo se acelera porque a consciência se fecha. Se a velocidade da passagem do tempo é, de fato, uma função da dilatação da consciência, então a acele­ração do tempo é um resultado direto da contração coletiva da consciência (a separação de um contexto espiritual mais amplo e a ascensão do mate­rialismo) que o fim de um ciclo histórico ocasiona.
Terence era fã da obra de Teilhard de Chardin, cujo Ponto Omega e conceitos da noosfera também influenciaram José Argüelles (o conceito da "tecnosfera"deste último é um tipo de noosfera tecnológica). O trabalho de Chardin aplica basicamente a evolução darwiniana ao desenvolvimento espiritual. Foi uma tentativa de unir a ciência à teologia espiritual. Chardin era um padre-cientista jesuíta. O seu conceito do Ponto Omega propunha que a humanidade estava se aproximando da consciência em um nível mais elevado, de um salto extraordinário para um novo nível de complexidade organizacional, da mesma maneira como as células criam um órgão e os órgãos trabalham em conjunto no organismo.
O Ponto Ômega é bastante semelhante à Singularidade de McKenna, o seu "objeto transdimensional" que supostamente nascerá da concrescência que terá lugar em 21 de dezembro de 2012. Esse novo estado de exis­tência toca e reflete mais intimamente o estado fundamental infinito e eterno do qual se originou. Dessa maneira, os seres evoluem para progressivamente refletir de uma forma mais plena o seu Criador infinito. Uma objeção ao modelo de Chardin, que igualmente se aplicaria ao de McKenna, é que o infinito não pode de modo nenhum "evoluir". Ele já está presente, latente, e nada no conteúdo do processo histórico é capaz de "construí-lo". É mais exato pensar nele como sendo progressivamente revelado. De que outra maneira poderemos explicar as visões interiores dos místicos que vislumbraram a eternidade? A idéia de Darwin é um processo ascendente, de baixo para cima, de novas formas e espécies que evoluem ao longo do tempo. Chardin acrescenta uma peculiaridade ao sugerir que os níveis discretos preexistem na própria arquitetura do universo, assim como os elétrons tendem a se agrupar em órbitas definidas ao redor do próton, fornecendo-nos elementos previsíveis definidos por leis. Mas ainda assim trata-se de um darwinismo espiritualizado no qual as mutações resultam em um ser plenamente consciente da sua base e origem eternas. No en­tanto, eis a principal diferença: para Chardin, assim como para Terence, o processo era teleológico, o que significa que é puxado para a frente pelo estado final e não empurrado por trás, ao longo do tempo, pela evolução histórica.
Esse conceito descendente, top-down, de cima para baixo, é uma das ideias fundamentais da Filosofia Perene, uma visão do cosmo inspirada pela experiência direta da verdade universal. Essa perspectiva da espiritualidade é encontrada, por exemplo, na sabedoria metafísica ensinada por Suhrawardi, sábio persa do século XII. Trata-se de um eco das Ideias preexistentes de Platão, que estão um pouco mais próximas do conceito de que toda mudança descende de cima, da esfera espiritual imaterial que se derrama sobre as esferas inferiores de manifestação física. A idéia é estranha para o cristianismo, exceto para as suas formas mais esotéricas, sendo no entanto fundamental para a metafísica islâmica e oriental. Na realidade, a teleologia ameaça a causalidade, a essência do princípio de causa e efeito da ciência ocidental, motivo pelo qual ela é execrada.
A fim de não irritar demais os sacerdotes do cienticismo, tanto McKenna quanto Chardin tentaram discretamente incorporar aos modelos defi­cientes da ciência ocidental certas antigas ideias perenes relacionadas com a maneira como o tempo e a consciência efetivamente funcionam. No en­tanto, introduzir percepções orientais em receptáculos construídos pela mente ocidental é como tentar espremer o oceano em uma garrafa. As implicações do Ponto Omega, da Singularidade e da 2012ologia requerem uma revisão radical da abordagem da filosofia ocidental da realidade. Em poucas palavras, a consciência não evolui; ela recorda, ou desperta, para o seu pleno potencial. Com base nessa perspectiva de cima para baixo, o cé­rebro físico evolui a fim de acomodar a mente desperta.
O meu amigo Curt Joy assinalou que Terence mencionou, em uma ou outra ocasião, praticamente tudo a respeito de 2012, de modo que não é realmente possível associá-lo a uma posição oficial, especialmente porque ele não está mais conosco para poder participar de um diálogo. A sua teoria, contudo, é mais conhecida por duas coisas: o tempo se acelera e alguma coisa definida vai acontecer no dia 21 de dezembro de 2012. Já abordamos a não reconhecida fonte subjetiva da experiência do tempo que se acelera. No outro ponto, o futuro pode ser predeterminado, mas a nossa experiência subjetiva dele não o é. Assim sendo, a ideia de um "algo" definido, previsível, acontecer para todos nós especificamente no dia 21 de dezembro de 2012 parece incrivelmente irrealista.
É possível que, para Terence, a ideia tenha feito sentido como uma projeção da repentina "ruptura de plano" vivenciada na expansão psicodélica. Projetada no processo histórico, uma ruptura de plano global deveria ocorrer no momento exato em que as moléculas de eventos do tempo caís­sem em avalanche na glândula pineal central da nossa consciência coletiva. Em outras palavras, a expansão visionária vivenciada pelo xamã talvez tenha se tornado, para Terence, um modelo para uma expansão coletiva de uma consciência superior. Essa ideia talvez encerre alguma verdade, mas o prin­cipal problema relacionado com essa conjuntura é, na minha opinião, o papel do livre-arbítrio individual.
O aviso que eu gostaria de dar aqui aos recém-chegados é que a ideia de que alguma coisa ocorra, de repente, no dia 21 de dezembro de 2012 é altamente improvável. Pessoalmente, não acredito que isso esteja embutido na arquitetura de eventos externos da maneira como Terence expôs na sua teoria da Novidade. Analogamente, a experiência do tempo que acelera provavelmente tem mais a ver com o estado da nossa consciência do que com o transbordar de eventos externos na história.
Finalmente, gostaria de apresentar uma variação confusa da teoria da Novidade de Terence. Usando um dos termos prediletos de Terence, é realmente um enigma. A sua teoria da Novidade, ou teoria Time Wave Zero, descreve uma intensificação de eventos inovadores ou novos à medi­da que nos aproximamos de 2012. Ao examinar os eventos históricos, Te­rence percebia a novidade aumentando quando eventos fora do comum ou inesperados aconteciam. A queda do Muro de Berlim, por exemplo. Assim sendo, o evento inovador supremo, a ocorrência mais estranha e inesperada, deverá ocorrer em 21 de dezembro de 2012 — e esse evento seria a própria teoria falhar, ou seja, com uma grande rotina do dia a dia tendo lugar. Mas, com o dia decisivo ocorrendo dessa maneira, a teoria então instantanea­mente se confirma. O grandioso Nada em Particular no final do tempo seria a coisa mais inesperada e inovadora que possivelmente poderia ocorrer, de acordo com a própria Teoria da Novidade. O seu fracasso provaria a sua eficácia. Isso é um enigma. Espero que Terence esteja sorrindo da minha idéia em algum lugar.


[1] Teoria também conhecida no Brasil pelo nome original de Time Wave Zero. (N. da T.)
[2] No original, Novelty Time Wave. (N. da T.)

(Do livro "2012 - A História" de John Major Jernkins - Larousse)

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