28 de dez. de 2009

O Alimento dos Deuses - Terence McKenna

Introdução: Manifesto para um novo pensamento sobre drogas

Há um espectro assombrando a cultura planetária: o espectro das drogas. A definição de dignidade humana, criada pela Renascença e elaborada nos valores democráticos da moderna civilização ocidental, parece a ponto de se dissolver. A grande mídia nos informa a todo volume que a capacidade humana para o comportamento obsessivo e o vício realizou um casamento satânico com a farmacologia moderna, com o marketing, com o transporte a grandes velocidades. Formas anteriormente obscuras de utilização de substâncias químicas agora competem livremente num mercado global bastante desregulamentado. Governos e nações do terceiro Mundo são mantidos escravos de entidades legais e ilegais que promovem o comportamento obsessivo.

Esta situação não é nova, mas está ficando cada vez pior. Até recentemente os cartéis internacionais das drogas eram criações obedientes de governos e serviços secretos que buscavam fontes de dinheiro “invisível” com o qual financiar seu próprio tipo de comportamento obsessivo institucionalizado. Atualmente esses cartéis das drogas evoluíram, através do crescimento sem precedentes da demanda por cocaína, transformando-se em elefantes desgarrados diante de cujos poderes até mesmo seus criadores se sentem inquietos.

Somos assediados pelo triste espetáculo das “guerras das drogas” promovidas por instituições governamentais que geralmente são paralisadas pela letargia e ineficiência ou estão em evidente conluio com os cartéis internacionais das drogas – que essas instituições prometem publicamente destruir.

Nenhuma luz poderá ser lançada sobre essa situação de uso e abuso pandêmico das drogas se não fizermos uma dura reavaliação de nossa situação atual e um exame de alguns padrões antigos, praticamente esquecidos, de experiência e comportamento relacionados às drogas. A importância dessa tarefa não pode ser subestimada. Sem a menor dúvida a auto-administração de substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, cada vez mais fará parte do desdobramento futuro de uma cultura global.

Uma reavaliação dolorosa

Qualquer reavaliação do uso que fazemos das substâncias deve começar com a noção do hábito, “uma tendência ou prática estabelecida”. Familiares, repetitivos e geralmente não examinados, os hábitos são simplesmente as coisas que fazemos. Segundo um velho ditado, “as pessoas são criaturas de hábito”. A cultura é em grande parte questão de hábito, aprendido com os pais e as pessoas ao nosso redor, e depois lentamente modificados pelas mudanças nas condições e por inovações inspiradas.

Mas, por mais lentas que sejam essas modificações culturais, a cultura apresenta um espetáculo de novidade violenta e contínua quando comparada com a modificação lentíssima das espécies e dos ecossistemas. Se a natureza representa um princípio de economia, a cultura certamente deve exemplificar o princípio de inovação através do excesso.

Quando os hábitos nos consomem, quando nossa devoção a eles excede as normas culturalmente definidas, nós os chamamos de obsessões. Nesses casos sentimos que a dimensão unicamente humana do livre-arbítrio foi violada de algum modo. Podemos ficar obcecados com quase tudo: com um padrão de comportamento como o de ler jornal matutino ou com objetivos materiais (o colecionador), com terras e propriedades (o construtor de impérios) ou com o poder sobre outras pessoas (o político).

Enquanto muitos de nós podem ser colecionadores, poucos têm a oportunidade de se entregar às obsessões a ponto de se tornarem construtores de impérios ou políticos. A obsessões das pessoas comuns tendem a se concentrar no aqui e agora, no âmbito da gratificação imediata através do sexo, da comida e das drogas. Uma obsessão com os constituintes dos alimentos e das drogas (também chamados de metabólitos) é rotulada de vício.

Os vícios e as obsessões são exclusivos dos seres humanos. Sim, existem amplas evidências relatadas sobre as preferências por estados intoxicados entre elefantes, chimpanzés e algumas borboletas. Mas, assim como acontece quando comparamos as capacidades lingüísticas de chimpanzés e golfinhos com a fala humana, vemos que os comportamentos desses animais são enormemente diferentes dos comportamentos humanos.

Hábito. Obsessão. Vício. Essas palavras são marcos de sinalização em um caminho de livre arbítrio decrescente. A negação do poder do livre-arbítrio está implícita na noção de vício, e em nossa cultura os vícios são levados à sério – especialmente os vícios exóticos ou não-familiares. No século XIX o vício do ópio era o “demônio de ópio”, uma descrição que trazia de volta a idéia de uma possessão demoníaca levada a cabo por uma força externa. No século XX a idéia do viciado como uma pessoa possuída foi trocada pela noção do vício como doença. E com a noção do vício como doença o papel do livre-arbítrio finalmente é reduzido até desaparecer. Afinal de contas, não somos responsáveis pelas doenças que podemos herdar ou desenvolver.

Mas hoje em da a dependência humana às substâncias químicas representa um papel mais consciente na formação e manutenção dos valores culturais do que em qualquer época anterior.

Desde meados do século XIX, e com velocidade e eficiência cada vez maiores, a química orgânica vem colocando nas mãos de pesquisadores, médicos e – em última instância – qualquer pessoa uma cornucópia infinita de drogas sintéticas. Essas drogas são mais poderosas, mais eficazes, de maior duração e, em alguns casos, muitas vezes mais viciantes do que seus parentes naturais. (Uma exceção é a cocaína, que, apesar de natural, quando refinada, concentrada e injetada torna-se particularmente destrutiva)

O surgimento de uma cultura global levou à ubiqüidade de informações sobre as plantas recreacionais, afrodisíacas, estimulantes, sedativas e psicodélicas que foram descobertas por seres humanos inquisitivos vivendo em partes remotas e anteriormente desconhecidas do planeta. Ao mesmo tempo em que esta torrente de informações botânicas e etnográficas chegava à sociedade ocidental, enxertando hábitos de outras culturas dentro da nossa e proporcionando-nos mais escolhas do que nunca, foram dados grandes passos na síntese de moléculas orgânicas complexas e na compreensão da mecânica molecular dos genes e da hereditariedade. Essas novas idéias e tecnologias estão contribuindo para um conhecimento muito diferente sobre a engenharia psicofarmacológica. Drogas projetadas em laboratório como o MDMA, o u Ecstasy, e os esteróides anabólicos usados por atletas e adolescentes para estimular o desenvolvimento dos músculos são arautos de uma era de intervenção farmacológica cada vez mais freqüente e eficaz sobre a nossa aparência, nosso desempenho e nosso sentimentos.

A idéia de regulamentar num nível planetário primeiro centenas, e depois milhares de substâncias sintéticas facilmente produzidas, intensamente procuradas, porém ilegais, é estarrecedora para qualquer pessoa que tenha esperança de um futuro mais aberto e menos regimentado.

Um renascimento arcaico

Este livro irá explorar a possibilidade de um renascimento do arcaico – ou da atitude pré-industrial e pré-alfabetizada com relação à comunidade, ao uso de substâncias e à natureza; uma atitude que serviu bem e por muito tempo aos nossos ancestrais nômades pré-históricos, antes do surgimento do estilo de cultura que chamamos de “ocidental”. O termo arcaico refere-se ao paleolítico superior, um período entre sete e dez mil anos atrás, precedendo à intervenção e à disseminação da agricultura. O arcaico foi um tempo de pastoreio nômade e de igualitarismo, de uma cultura baseada na criação de gado, no xamanismo e no culto à Deusa.

Organizei a discussão numa ordem mais ou menos cronológica, com as últimas seções, mais orientadas para o futuro, retomando e revendo os temas arcaicos dos primeiros capítulos. A argumentação segue de acordo com as linhas de progresso de uma peregrinação farmacológica. Assim chamei as quatro sessões do livro de “Paraíso”, “Paraíso Perdido”, “Inferno” e, espero que sem ser exageradamente otimista, “Paraíso Reconquistado”. Um glossário de termos especiais é dado no final do livro.

Obviamente, não podemos continuar pensando como antigamente sobre o uso de drogas. Sendo uma sociedade global, devemos encontrar uma nova imagem orientadora para nossa cultura, uma imagem que unifique as aspirações da humanidade com as necessidades do planeta e do indivíduo. Uma análise da imperfeição existencial que nos leva a formar relacionamentos de dependência e vício com plantas e drogas mostrará que, no início da história, perdemos alguma coisa preciosa, cuja ausência nos tornou doentes de narcisismo. Somente uma recuperação do relacionamento que desenvolvemos com a natureza através do uso de plantas psicoativas antes da queda na história pode nos oferecer a esperança de um futuro humano e aberto.

Antes de nos comprometermos irrevogavelmente com a quimera de uma cultura livre de drogas, comparada ao preço de um abandono completo dos ideais de uma sociedade planetária livre e democrática, devemos nos fazer perguntas duras: por que, como espécie, somos tão fascinados por estados alterados de consciência? Qual tem sido o impacto deles sobre nossas aspirações estéticas e espirituais? O que perdemos ao negar a legitimidade do impulso de cada indivíduo para o uso de substâncias visando experimentar pessoalmente o transcedental e o sagrado? Minha esperança é de que a resposta a essas perguntas vai nos forçar a enfrentar as conseqüências de negar a dimensão espiritual da natureza, de ver a natureza como nada mais que um “recurso” a ser dominado e esgotado. A discussão bem-informada sobre esses temas não dará conforto a quem é obcecado pelo controle, não dará conforto ao fundamentalismo religioso ignorante, a qualquer forma de fascismo.

A pergunta de como, enquanto sociedade e indivíduos, nos relacionamos com as plantas psicoativas no final do século XX, levanta uma questão mais ampla: como, com o passar do tempo, fomos moldados pelas alianças mutáveis que formamos e rompemos com vários membros do mundo vegetal enquanto caminhávamos pelo labirinto da história? Esta é uma questão que irá nos ocupar detalhadamente nos próximos capítulos.

O grande mito de nossa cultura se inicia no Jardim do Éden, quando foi comido o fruto da Árvore do Conhecimento. Se não aprendermos com o passado, essa história pode terminar com um planeta intoxicado, suas florestas sendo apenas uma lembrança, sua coesão biológica despedaçada, nosso legado um deserto de ervas daninhas. Se deixamos de perceber alguma coisa em nossas tentativas anteriores de compreender nossas origens e nosso lugar na natureza, será que agora estamos em condições de olhar para trás e compreender não somente o passado, mas também o futuro, de um modo inteiramente novo? Se pudermos recuperar o sentimento perdido da natureza como um mistério vivo poderemos ter confiança em novas perspectivas na aventura cultural que certamente nos espera adiante. Temos a oportunidade de nos afastar do triste niilismo histórico que caracteriza o reino de nossa cultura profundamente patriarcal e dominadora. Estamos em posição de recuperar a avaliação arcaica de nossa relação praticamente simbiótica com as plantas psicoativas como uma fonte de idéias e coordenação fluindo do mundo vegetal para o mundo humano.

O mistério de nossa consciência e de nosso poderes de auto-reflexão está de algum modo ligado a este canal de comunicação com a mente invisível que os xamãs afirmam ser o mundo vivo da natureza. Para os xamãs e as culturas xamânicas a exploração desse mistério sempre foi uma alternativa crível à vida numa cultura materialista confinadora. Nós, que pertencemos às democracias industriais, podemos escolher explorar agora essas dimensões estranhas ou podemos esperar até que a destruição cada vez maior do planeta vivo torne irrelevante qualquer outra exploração.

Um novo manifesto

Portanto chegou o tempo, no grande discurso natural que é a história das idéias, de repensar totalmente nosso fascínio pelo uso habitual das plantas psicoativas e fisioativas. Temos de aprender com os excessos do passado, especialmente da década de 1960, mas não podemos simplesmente advogar o “Diga não”, do mesmo modo que não podemos advogar o “Experimente, você vai gostar”. Nem podemos apoiar uma visão que deseje dividir a sociedade entre usuários e não-usuários. Precisamos de uma abordagem ampla a essas questões, uma abordagem que envolva as implicações evolucionárias e históricas mais profundas.

A influência da dieta em induzir mutações nos primeiros humanos e o efeito de metabólitos exóticos na evolução de sua neuroquímica e sua cultura ainda é um território não estudado. A adoção de uma dieta onívora por parte dos primeiros hominídeos e a descoberta do poder de certas plantas foram fatores decisivos para afastá-los da corrente da evolução animal, levando-os para a maré acelerada da linguagem e da cultura. Nossos ancestrais remotos descobriram que certas plantas, quando auto-administradas, suprimem o apetite, diminuem a dor, proporcionam jorros de energia súbita, conferem imunidade contra patogenes e sinergizam atividades cognitivas. Essas descobertas levaram-nos à longa jornada para a auto-reflexão. Assim que nos tornamos onívoros usuários de ferramentas, a própria evolução de um processo de modificação vagarosa para uma rápida definição de formas culturais através da elaboração de rituais, linguagens, escrita, capacidades mnemônicas e tecnologia.

Essas mudanças imensas ocorreram em grande parte como resultado das sinergias entre os seres humanos e as várias plantas com as quais eles interagiram e co-evoluíram. Uma avaliação honesta do impacto das plantas sobre as bases das instituições humanas descobriria que elas são absolutamente fundamentais. No futuro, a aplicação de soluções estáveis botanicamente inspiradas, como o crescimento zero de população, a extração do hidrogênio da água do mar e os programas maciços de reciclagem podem ajudar a reorganizar nossas sociedades e nosso planeta em termos mais holísticos, conscientes do meio ambiente, neo-arcaicos.

A supressão do natural fascínio humano com relação aos estados alterados de consciência e a atual situação de perigo por que passa toda a vida na terra estão íntima e causalmente conectadas. Quando suprimos o acesso ao êxtase xamânico represamos as águas refrescantes da emoção que flui de um relacionamento profundamente ligado, quase simbiótico, com a terra. Em conseqüência disso se desenvolvem e se mantêm os estilos sociais mal-adaptados que encorajam a superpopulação, o mau uso dos recursos e a intoxicação ambiental. Nenhuma cultura na terra é tão profundamente narcotizada, em termos de se acostumar às conseqüências do comportamento mal-adaptado, quanto o ocidente industrializado. Buscamos uma atitude tranqüila numa atmosfera surreal de crise cada vez maior e contradições irreconciliáveis.

Como espécie, precisamos reconhecer a profundidade de nosso dilema histórico. Continuaremos a jogar com um baralho pela metade enquanto continuarmos a tolerar os cardeais do governo e da ciência que pretendem ditar onde a curiosidade humana pode se concentrar e onde não pode. Essas restrições à imaginação humana são aviltantes e absurdas. O governo não somente restringe a pesquisa sobre substâncias psicodélicas que poderiam talvez produzir valiosas idéias psicológicas e médicas; ele pretende impedir também seu uso religioso e espiritual. O uso religioso das plantas psicodélicas é uma questão de direitos civis; sua restrição é a repressão de uma legítima sensibilidade religiosa. De fato, não é uma sensibilidade religiosa que está sendo reprimida, mas a sensibilidade religiosa, uma experiência da religio baseada no relacionamento entre plantas e seres humanos que existe desde muito antes do advento da história.

Não mais podemos adiar uma reavaliação honesta dos verdadeiros custos e benefícios do uso habitual das plantas e das drogas versus os verdadeiros custos e benefícios da supressão de seu uso. Nossa cultura global corre o risco de sucumbir a um esforço orwelliano de acabar com o problema através do terrorismo militar e policial contra os consumidores de drogas em nossa população e os produtores de drogas no Terceiro Mundo. Essa resposta repressiva é alimentada em grande parte por um medo não examinado que é produto de desinformação e ignorância histórica.

Preconceitos culturais profundamente arraigados explicam porque a mente ocidental torna-se subitamente ansiosa e repressiva com relação às drogas. As mudanças de consciência induzidas por substâncias revelam dramaticamente que nossa vida mental tem fundamentos físicos. Assim, as drogas psicoativas desafiam a suposição cristã da da inviolabilidade e do status ontológico especial da alma. De modo semelhante, elas desafiam a idéia moderna do ego, de sua inviolabilidade e de suas estruturas de controle. Resumindo, os contatos com as plantas psicodélicas questionam toda a visão de mundo da cultura dominadora.

Abordaremos frequentemente esse tema do ego e da cultura dominadora nesse reexame da história. De fato, o terror que o ego sente ao contemplar a dissolução de fronteiras entre o Eu e o mundo não está somente por trás da supressão dos estados alterados da consciência, mas, de modo mais geral, explica a supressão do feminino, do estrangeiro e exótico e das experiências transcedentais. Nos tempos pré-históricos, porém pós-arcaicos, de cerca de 5000 a 3000 a.C., a supressão da sociedade igualitária pelos invasores patriarcais arrumaram o cenário para a supressão da investigação experimental e aberta da natureza, feita pelos xamãs. Em sociedades altamente organizadas essa tradição arcaica foi substituída por uma tradição do dogma, da politicagem clerical, das guerras e, finalmente, dos valores “racionais e científicos” ou dominadores.

Até aqui usei sem explicação os termos “igualitários” e “dominadores” para falar de estilos de cultura. Devo essas expressões úteis a Riane Eisler e sua importante revisão da história no livro The Chalice and the Blade. Eisler desenvolveu a noção de que os modelos de sociedade “igualitária” precederam e mais tarde competiram e foram oprimidos pelas formas de organização social “dominadora”. As culturas dominadoras são hierárquicas,, paternalistas, materialistas e de domínio masculino. Eisler acredita que a tensão entre as organizações igualitárias e dominadoras e a superexpressão do modelo dominador são responsáveis pelo nosso afastamento da natureza, de nós mesmos e ins dos outros.

Eisler escreveu uma brilhante síntese do surgimento da cultura no antigo Oriente Próximo e do desdobramento do debate político relativo à feminização da cultura e à necessidade de superar padrões de domínio masculino para a criação para a criação de um futuro viável. Sua análise política dos sexos eleva o nível do debate para além dos que saudaram estridentemente um ou outro “matriarcado” ou “patriarcado” antigo. The Chalice and the Blade introduz a noção de “sociedades igualitárias” e “sociedades dominadoras” e usa os registros arqueológicos para argumentar que, sobre vastas áreas e durante muitos séculos, as sociedades igualitárias do Oriente Médio antigo não tinham guerras nem levantes. A guerra e o patriarcado chegaram com o aparecimento de valores dominadores.

A herança dominadora

Nossa cultura, auto-intoxicada pelos subprodutos venenosos da tecnologia e pela ideologia egocêntrica, é a infeliz herdeira da atitude dominadora que diz que a alteração da consciência através do uso de plantas ou de substâncias é errada, onanística e perversamente anti-social. Irei argumentar que a supressão da gnose xamânica, com sua confiança e insistência na dissolução extática do ego, roubou-nos o significado da vida e tornou-nos inimigos do planeta, de nós mesmos e de nossos netos. Estamos matando o planeta para manter intactas as suposições equivocadas do estilo cultural dominador do ego.

É tempo de mudança.

***

Trechos do primeiro capítulo: Xamanismo: Arrumando o Palco

Um mundo feito de linguagem

As evidências reunidas em milênios de experiência xamânica dizem que, de certo modo, o mundo é na verdade feito de linguagem. Ainda que contrariando as expectativas da ciência moderna, essa proposição radical concorda com boa parte do atual pensamento linguístico. “A revolução linguística do século XX”, segundo a antropóloga Misia Landau, da Boston University, “é o reconhecimento de que a linguagem não é apenas um instrumento para a comunicação de idéias sobre o novo mundo, mas, em primeiro lugar, uma ferramenta para dar vida ao mundo. A realidade não é simplesmente “experimentada” ou “refletida” na linguagem; em vez disso é, de fato, produzida pela linguagem.”

Segundo o ponto de vista do xamã psicodélico, o mundo parece existir mais na natureza de uma expressão vocal ou de uma narrativa do que relacionado de qualquer modo aos léptons e bárions ou carga e spin dos quais falam nossos sumos sacerdotes, os físicos. Para o xamã, o cosmo é uma narrativa que se torna real enquanto é contada e enquanto conta a si própria. Essa perspectiva implica que a imaginação humana pode controlar o leme de estar no mundo. A libertdade, a responsabilidade pessoal e uma consciência humilde do verdadeiro tamanho e da inteligência do mundo combinam-se neste ponto de vista para torná-lo uma base adequada a uma verdadeira vida neo-arcaica. Uma reverência pelos poderes da linguagem e da comunicação e uma imersão neles são as bases do caminho xamânico.

É por isso que o xamã é o ancestral remoto do poeta e do artista. Nossa necessidade de fazer parte do mundo parece exigir que nos expressemos através da atividade criativa. As fontes definitivas dessa criatividade estão ocultas no mistério da linguagem. O êxtase xamânico é um ato de rendição que autentica o Eu individual e aquilo a que ele se rende, o mistério do ser. Como nossos mapas da realidade são determinados pelas circunstâncias atuais, tendemos a perder a consciência dos padrões mais amplos de tempo e espaço. Somente através do acesso ao Outro Transcendente podem ser vislumbrados esses padrões de tempo e espaço e nosso papel dentro deles. O xamanismo procura esse ponto de vista mais alto, que é alcançado através de um feito de perícia linguística. Um xamã é alguém que conseguiu uma visão dos princípios e dos fins de todas as coisas, e que consegue comunicar essa visão. Para o pensador racional isso é inconcebível, mas as técnicas do xamanismo são dirigidas para esse objetivo, e essa é a fonte do seu poder. Dentre as técnicas do xamã, a mais importante é o uso de alucinógenos vegetais, repositórios da gnose vegetal vive que se encontra – agora praticamente esquecida – em nosso passado.

Uma realidade dimensional mais elevada

Ao entrar no domínio da inteligência vegetal o xamã ganha, de certo modo, acesso privilegiado a uma perspectiva dimensional mais elevada sobre a experiência. O bom senso presume que, apesar da linguagem estar sempre evoluindo, a matéria-prima daquilo que a linguagem expressa é relativamente constante e comum a todos os seres humanos. Além disso, também sabemos que a língua hopi não tem tempos ou conceitos de passado ou futuro. Como, então, o mundo hopi pode ser igual ao nosso? E os inuítes não tem o pronome pessoal da primeira pessoa. Como, então, o mundo deles pode ser igual ao nosso?

As gramáticas das línguas – suas regras internas – têm sido cuidadosamente estudadas. Ainda assim, muito pouca atenção foi dedicada a examinar o modo como a linguagem cria e define os limites da realidade. Talvez a linguagem seja mais adequadamente compreendida quando pensadas em termos de magia, já que a postura básica da magia é de que o mundo é feito de linguagem.

Se a linguagem é aceita como primeiro elemento do conhecimento, então nós, do ocidente, fomos tristemente enganados. Somente as abordagens xamânicas poderão nos dar as respostas que achamos mais interessantes: quem somos, de onde viemos e para que destino estamos nos dirigindo? Essas perguntas nunca foram mais importantes do que hoje em dia, quando as evidências do fracasso da ciência em nutrir a alma da humanidade estão ao nosso redor. O nosso tédio não é somente um tédio temporal do espírito; se não tivermos cuidado, nossa condição será uma condição temporal do corpo e do espírito coletivos.

O preconceito racional, mecanicista e antiespiritual de nossa cultura tornou impossível apreciarmos a estrutura mental do xamã. Somos cultural e linguisticamente cegos ao mundo das forças e interconexões que permanecem claramente visíveis aos que mantiveram o relacionamento arcaico com a natureza.

É claro que quando cheguei à Amazônia, vinte anos atrás, não sabia de nada disso. Como a maioria dos ocidentais, acreditava que a magia era um fenômeno dos ingênuos e primitivos, que a ciência poderia dar uma explicação para o funcionamento do mundo. Nessa posição de ingenuidade intelectual, encontrei pela primeira vez cogumelos contendo psilocibina em San Augustine, no alto Magdalena, ao sul da Colômbia. Mais tarde, e não muito distante dali, em Florencia, também encontrei e usei infusões visionárias feitas com cipós banisteriopsis, o yagé ou ayahuasca das lendas underground dos anos 60.

As experiências que tive durante essas viagens foram pessoalmente transformadoras e, mais importante, me apresentaram a uma classe de experiências vitais para a restauração do equilíbrio entre nossos mundos social e ambiental.

Compartilhei da mente grupal gerada nas sessões de visões dos ayahuasqueros. Vi os dardos mágicos de luz vermelha que um xamã pode mandar contra outro. Porém, mais reveladores do que os feitos paranormais dos magos e dos curandeiros espirituais foram as riquezas interiores que descobri em minha mente no auge dessas experiências. Ofereço meu relato como uma espécie de testemunho, um Homem Comum; se essas experiências aconteceram comigo, elas podem fazer parte da experiência geral dos homens e das mulheres em todo o mundo.

Um memento xamânico

Minha educação xamânica não foi especial. Milhares de pessoas de um modo ou de outro, concluíram que as plantas psicodélicas e as instituições xamânicas implicadas por seu uso são instrumentos profundos para a exploração das profundezas internas da psique humana. Agora os xamãs psicodélicos constituem uma subcultura mundial e crescente de exploradores hiperdimensionais, muitos dos quais são cientificamente sofisticados. Uma paisagem começa a entrar em foco, uma região ainda pouco vislumbrada, mas que vem surgindo, chamando a atenção do discurso racional – e possivelmente ameaçando confundi-lo. Anida podemos nos lembrar de como devemos nos comportar, de como assumir o lugar correto no padrão de conexão, na teia contínua de todas as coisas.

A compreensão de como alcançar esse equilíbrio depende das culturas esquecidas e maltratadas que vivem nas florestas úmidas e nos desertos do Terceiro Mundo e nas reservas para onde as culturas dominadoras forçam os povos aborígenes. A gnose xamânica pode estar morrendo; certamente está mudando. Mas os alucinógenos vegetais que são sua origem, origem da mais antiga religião humana, continuam como uma fonte que jorra, refrescante como sempre. O xamanismo é vital e real devido ao encontro do indivíduo com o desafio e o espanto, o êxtase e a exaltação induzidos pelas plantas alucinógenas.

Meus contatos com o xamanismo e os alucinógenos na Amazônia me convenceram de sua importância salvadora. Depois de me convencer, decidi filtrar as várias formas de ruído linguístico, cultural, farmacológico e pessoal que obscureciam o Mistério. Tive a esperança de destilar a essência do xamanismo, de descobrir o esconderijo da Epifania. Quis ver além dos véus de sua dança sinuosa. Como um voyeur cósmico, sonhei confrontar a beleza nua.

Um cínico do tipo dominador poderia se contentar em rejeitar isso como ilusão da juventude romântica. Ironicamente, já fui este cínico. Sentia a loucura da busca. Sabia das dificuldades. “O Outro? A beleza platônica nua? Você deve estar brincando!”

E devo admitir que houve muitas desventuras loucas pelo caminho. “Devemos nos tornar os loucos de Deus”, falou uma vez um entusiasmado amigo zen, querendo dizer: “Vai fundo.” Buscar e encontrar era um método que funcionara para mim no passado. Eu sabia que na Amazônia ainda sobreviviam práticas xamânicas baseadas no uso de plantas alucinógenas e estava determinado a confirmar minha intuição de que por trás desse fato havia um grande segredo não descoberto.

A realidade superou a apreensão. O rosto manchado da velha leprosa ficou ainda mais horroroso quando as chamas da fogueira saltaram subitamente no momento em que ela colocou mais lenha. Na semi-escuridão por trás da mulher pude ver o guia que me trouxera a esse lugar sem nome no rio Cumala. Antes, no bar da cidade junto ao rio, este encontro casual com o barqueiro disposto a me levar para ver a milagrosa feiticeira do ayahuasca, lendária do local, pareceu uma grande ocasião para uma história. Agora, após três dias de viagem pelo rio e de meio dia lutando por trilhas tão enlameadas a ponto de ameaçar arrancar as botas a cada passo, eu não tinha tanta certeza.

Neste ponto, o objetivo original de minha busca – o autêntico ayahuasca da floresta, que diziam ser muito diferente da lavagem oferecida pelos charlatães do mercado – praticamente não tinha mais interesse para mim.

- Tomé, caballero! – cacarejou a velha enquanto me passava um copo cheio do líquido negro e espesso. Sua superfície tinha o brilho de óleo de motor.

Ela deve ter crescido representando esse papel, pensei enquanto bebia. O líquido era quente e salgado, áspero e agridoce. Tinha o gosto do sangue de uma coisa velha, muito velha. Tentei não pensar no quanto estava à mercê daquelas pessoas estranhas. Mas na verdade minha coragem estava fraquejando. Os olhos zombeteiros de Doña Catalina e do guia tinham ficado frios e parecidos com olhos de louva-deus. Uma onda de sons de insetos passando rio acima pareceu respingar a escuridão com cacos de luz amolada. Senti os lábios ficando dormentes.

Tentando não parecer tão pesado quanto estava, fui até minha rede e deitei de costas. Por trás de meus olhos fechados havia um rio de luz magenta. Ocorreu-me, numa espécie de pirueta mental, que devia haver um helicóptero pousando sobre a cabana, e esta foi a minha impressão.

Quando recuperei a consciência, parecia estar surfando no tubo de uma onda de informações transparentes e iluminadas, com dezenas de metros de altura. A empolgação deu lugar ao terror quando percebi que minha onda acelerava em direção a um litoral rochoso. Tudo desapareceu no caos trovejante de onda informacional indo de encontro à terra virtual. Mais tempo perdido e em seguida a impressão de ser um marinheiro naufragado, lançado a uma praia tropical. Sentia que estava apertando o rosto contra a areia quente. Tenho sorte de estar vivo! Ou será que estou vivo para ter sorte? Comecei a rir.

Nesse ponto a velha começou a cantar. Não uma canção comum, e sim um icaro, uma canção mágica de cura, que em nosso estado intoxicado e extático mais parece um peixe de recife tropical ou uma encharpe de seda com muitas cores do que um desempenho vocal. A canção é uma manifestação visível de poder, envolvendo-nos e deixando-nos seguros.

O xamanismo e mundo arcaico perdido

O xamanismo foi maravilhosamente definido por Mircea Eliade como “as técnicas arcaicas do êxtase”. O uso que Eliade faz do termo “arcaico” é importante aqui porque nos alerta para o papel que o xamanismo deve representar em qualquer renascimento autêntico das formas arcaicas vitais de ser, viver e compreender. O xamã consegue entrar num mundo que está oculto para quem vive na realidade comum. Nesta outra dimensão se escondem tanto poderes úteis como malévolos. Suas regras não são as regras de nosso mundo; parecem mais as regras que atuam nos mitos e nos sonhos.

Os curandeiros xamânicos insistem na existência de um Outro inteligente em alguma dimensão próxima. A existência de uma ecologia de almas ou uma inteligência não encarnada não é uma coisa com a qual a ciência possa se atracar e em seguida imergir com suas premissas intactas. Particularmente se esse Outro tem feito parte da cultura terrestre há muito tempo, presente porém invisível, compartilhando um segredo global.

Os textos de Carlos Castaneda e de seus imitadores resultaram numa coqueluche de “consciência xamânica” que, mesmo confusa, transformou o xamã de uma figura periférica na literatura da antropologia cultural, no modelo colocado pela mídia para a entrada na sociedade neo-arcaica. A despeito da atração que o xamanismo provoca sobre a imaginação popular, os fenômenos paranormais que ele presume serem reais e verdadeiros nunca foram levados a sério pela ciência moderna, ainda que os cientistas, num caso raro de deferência, tenham chamado psicólogos e entropólogos para analisar o xamanismo. Essa cegueira em relação ao mundo paranormal criou um ponto cego intelectual em nossa visão normal de mundo. Somos completamente inconscientes do mundo mágico do xamã. Ele é simplesmente mais estranho do que podemos supor.

Considere um xamã que use plantas para conversar com um mundo invisível habitado por inteligências não-humanas. Pareceria perfeito para manchete de um tablóide sensacionalista. Entretanto, os antropólogos registram essas coisas o tempo todo e ninguém ergue uma sobrancelha. Isso porque tendemos a presumir que o xamã interpreta sua experiência da intoxicação como comunicação com espíritos ou ancestrais. A implicação é que você ou eu interpretaríamos essa mesma experiência de modo diferente, e que portanto não é de se espantar que um campesino pobre e desinformado ache que estava falando com um anjo.

Por mais xenofóbica que seja essa atitude, ela sugere um bom procedimento operacional, já que o que se diz é: “Mostre as técnicas de seu êxtase e julgarei por mim mesmo a sua eficácia.” Eu fiz isso. Essa é a minha credencial para as teorias e opiniões que ofereço. A princípio fiquei aterrorizado pelo que descobri: o mundo do xamanismo, dos aliados, dos alteradores de forma e do ataque mágico é muito mais real do que as construções da ciência jamais poderão ser, porque esses espíritos ancestrais e seu mundo podem ser vistos e sentidos, podem ser conhecidos, na realidade não-habitual.

Uma coisa profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamânicos. Os povos que estão fora da história ocidental, que continuam na época do sonho da pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento arcaico.

Daí não se deve deduzir que devemos ficar de queixo caído diante das realizações dos “primitivos” numa outra versão da Dança do Selvagem Nobre. Todo mundo que já fez trabalho de campo sabe dos choques frequentes entre nossas explicações sobre como o “verdadeiro povo das florestas úmidas” deve se comportar e as realidades da vida tribal cotidiana. Ninguém compreende ainda a misteriosa inteligência que há nas plantas ou as implicações da idéia de que a natureza se comunica numa linguagem química básica, inconsciente porém profunda. Ainda não compreendemos como os alucinógenos transformam a mensagem inconsciente em revelações contempladas pela mente consciente. Enquanto afiavam suas intuições e seus sentidos, usando as plantas que estivessem à mão para aumentar sua vantagem adaptativa, os povos arcaicos tinham pouco tempo para a filosofia. Até hoje ainda não se manifestaram totalmente as implicações da existência dessa mente descoberta pelos povos xamânicos dentro da natureza.

Enquanto isso, silenciosamente e fora da história, o xamanismo prosseguia seu diálogo com o mundo invisível. O legado do xamanismo pode atuar como uma força estabilizadora destinada a redirecionar nossa consciência para o destino coletivo da biosfera. A fé xamânica é de que a humanidade tem aliados. Existem forças favoráveis à nossa luta para nascermos como espécie inteligente. Mas são forças silenciosas e tímidas; devem ser procuradas não na chegada de frotas alienígenas no céu da terra, e sim aqui perto, na solidão dos locais ermos, junto às cachoeiras; e, sim, nas pastagens agora tão raras sob nossos pés.

O Gatilho Cósmico













ALQUIMIA


A alquimia é a arte de trabalhar e aperfeiçoar os corpos com a ajuda da natureza. No sentido restrito do termo, a alquimia sendo uma técnica é, por isso, uma arte prática. Como tal, ela assenta sobre um conjunto de teorias relativas à constituição da matéria, à formação de substâncias inanimadas e vivas, etc.

A alquimia operativa, aplicação direta da alquimia teórica, é a procura da pedra filosofal. Ela reveste-se de dois aspectos principais: a medicina universal e a transmutação dos metais, sendo uma, a prova real da outra.

Alquimia, técnica antiga dedicada, principalmente, a descobrir uma substância que transmutaria os metais mais comuns em ouro e prata, e a encontrar meios de prolongar indefinidamente a vida humana. Foi a predecessora da química. Durante a Idade Média, muitas pessoas pensaram em fabricar ou descobrir uma substância, a famosa pedra filosofal, muito mais perfeita do que o ouro, que poderia ser utilizada para levar os metais mais comuns à perfeição do ouro.

A alquimia é das ciências ocultas que, atualmente, mais interesse tem despertado não só pelos inúmeros livros que ao longo dos tempos foram escritos sobre a Arte Hermética, mas também, pela curiosidade de saber algo sobre a veracidade da misteriosa Pedra Filosofal, também conhecida por Medicina Universal.

Durante muito tempo a alquimia foi sinônimo de charlatanismo. Muito do descrédito da alquimia era devido à falta de publicações sérias, pois muitas delas são imitações grosseiras, feitas por sopradores (falsos alquimistas) dos verdadeiros e antigos textos, nas quais se une o absurdo com a ignorância. Atualmente, devido ao grande número de traduções das obras clássicas mais importantes dos grandes Mestres, a opinião de muitas pessoas mudou completamente.

A origem da alquimia se perde no tempo, sendo mais antiga do que a história da humanidade. Seu verdadeiro início é desconhecido e envolto em obscuridade e mistério. Assim, seu surgimento confunde-se com a origem e evolução do homem sobre a Terra.

Então, a história da Alquimia remonta a tempos muito antigos. Talvez seja remanescente do maior conhecimento alcançado por alguma fantástica civilização que tenha florescido na Terra e desaparecido, há milhares de anos. A existência dessa civilização superior pode ser pressentida na tradição de quase todos os povos, conscientes de um estágio fantástico vivido por seus ancestrais. Determinados vestígios de uma sabedoria superior, principalmente com relação ao conhecimento da energia, servem de indício a que, tal estágio de evolução científica, realmente tenha existido no passado da humanidade, sendo impossível atribuí-lo ao homem de Neandertal.

A utilização e o controle do fogo separou o animal irracional do ser humano. Nos primórdios, não se produzia o fogo, porém ele era controlado e utilizado para aquecer, iluminar, assar alimentos, além de servir para manejar alguns materiais, como a madeira. Bem mais tarde conseguiu-se produzir e manufaturar materiais com metal, a partir de metais encontrados na forma livre e posteriormente partindo dos minérios.

Muitos associam a origem da alquimia à herança de conhecimentos de uma antiga civilização que teria sido extinta. Na Terra, já teriam existido inúmeras outras civilizações em diversas épocas remotas, dentre elas várias eram mais evoluídas que a nossa. Estas civilizações tiveram uma existência cíclica, com o nascimento, desenvolvimento e morte ocorrida provavelmente por meio de grandes catástrofes, como a queda de um grande meteoro, inundações, erupções vulcânicas, dentre outras que acabavam por reduzir grandes civilizações a um número ínfimo de sobreviventes ou mesmo por dizimá-las, fazendo com que uma nova civilização brotasse das cinzas. Os conhecimentos sobre a alquimia estariam impregnados no inconsciente coletivo de todas as civilizações até hoje ou poderiam ter sido transmitidos pelos poucos sobreviventes, desta maneira a alquimia teria resistido ao tempo.
Os textos chineses antigos se referem as "ilhas dos bem aventurados" que eram habitadas por imortais. Acreditava-se que ervas contidas nestas três ilhas após sofrerem um preparo poderiam produzir a juventude eterna, seria como o elixir da longa vida da alquimia.

No ocidente, o Egito é considerado o criador da alquimia. O próprio nome é de origem árabe, com raiz grega (elkimyâ). Kimyâ deriva de Khen (ou chem), que significa "o país negro", nome dado ao Egito na Antigüidade. Outros acham que se relaciona ao vocábulo grego derivado de chyma, que se relaciona com a fundição de metais.

Os alquimistas relacionam a sua origem ao deus egípcio Tote, que os gregos chamavam de Hermes (Hermes Trimegisto). Alguns alquimistas o consideravam como um rei antigo que realmente teria existido, sendo o primeiro sábio e inventor das ciências e do alfabeto. Por causa de Hermes a alquimia também ficou conhecida como arte hermética ou ciência hermética.

Os relatos mais remotos de doutrinas que utilizavam os preceitos alquímicos, remontam de uma lenda que menciona o seu uso pelos chineses em 4.500 a.C. Ao que parece ela teria aflorado do taoísmo clássico (Tao Chia) e do taoísmo popular, religioso e mágico (Tao Chiao). Porém os textos alquímicos começaram a surgir na dinastia Tang, por volta de 600 a.C. Na China, o mais famoso alquimista foi Ko Hung (cujo nome verdadeiro era Pao Pu-tzu, viveu de 249-330 d.C.) que acreditava que com a alquimia poderia superar a mortalidade. Atribui-se a ele a autoria de mais de cem livros sobre o assunto, dos quais o mais famoso é "O Mestre que Preserva sua Simplicidade Primitiva". Teria aprendido a alquimia por volta de 220 d.C com Tso Tzu. O tratado de Ko Hung, além da alquimia trata também da ciência da alma e das ciências naturais. Sua obra trata tanto do elixir da longa vida bem como da transmutação dos metais. Até então a alquimia chinesa era puramente espiritual e foi Ko Hung que introduziu o materialismo, provavelmente devido a influências externas. Ela foi influenciada também pelo I Ching "O livro das Mutações". Posteriormente seguiu a escola dos cinco elementos, que mesmo assim permaneceu quase que completamente mental-espiritual.

Na China a alquimia também ficou vinculada à preparação artificial do cinábrio (minério do qual se extraía o mercúrio - sulfeto de mercúrio), que era considerado uma substância talismânica associada à manutenção da saúde e a imortalidade. A metalurgia, principalmente o ato da fundição, era um trabalho que deveria ser realizado por homens puros conhecedores dos ritos e do ofício. A transformação espiritual era simbolizada pelo "novo nascimento", associada à obtenção do metal a partir do minério (cinábrio e mercúrio).

A filosofia hindu de 1000 a.C. apresentava algumas semelhanças com a alquimia chinesa, como por exemplo, o soma cujo conceito assemelhava-se ao do elixir da longa vida.

No Egito a alquimia teria surgido no século III d.C. e demonstrava uma influência do sistema filosófico-religioso da época helenística misturando conhecimentos médicos com metalúrgicos. A cidade de Alexandria era o reduto dos alquimistas. O alquimista grego mais famoso foi Zózimo (século IV), que nasceu em Panópolis e viveu em Alexandria, escreveu uma grande quantidade de obras. Nesta época, várias mulheres dedicavam-se a alquimia, como por exemplo, Maria, a judia, que inventou o um banho térmico com água muito utilizado nos laboratórios atualmente, o "banho-maria", Cleópatra que possivelmente não seria a Rainha Cleópatra, Copta e Teosébia. Os persas conheciam a medicina, magia e alquimia. A alquimia possuía um pouco da imagem da população de Alexandria, era uma mistura das práticas helenísticas, caldaicas, egípcias e judaicas.

Alexandre "o Grande" foi quem teria disseminado a alquimia durante suas conquistas aos povos bizantinos e posteriormente aos árabes. Os árabes, sob a influência dos egípcios e chineses, trouxeram a alquimia para o ocidente ao redor do ano de 950, inicialmente para a Espanha. Construíram-se escolas e bibliotecas que atraiam inúmeros estudiosos. Conta-se que o primeiro europeu a conhecer a alquimia foi o teólogo e matemático monge Gerbert que mais tarde tornou-se papa, no período de 999/1003, com o nome de Silvestre II. Na Itália Miguel Scott, astrólogo, escreveu uma obra intitulada De Secretis em que a alquimia estava constantemente presente.

No século X, a alquimia chinesa renunciou a preparação de ouro e se concentrou mais na parte espiritual. Ao invés de fazerem operações alquímicas com metais, a maioria dos alquimistas realizavam experimentos diretamente sobre seu corpo e espírito. Esta retomada a uma ciência espiritual teve como ponto culminante no século XIII com o taoísmo budaizante, com as práticas da escola Zen.
A alquimia deixou muitas contribuições para a química, como subproduto de seus estudos, dentre eles pode-se citar: a pólvora, a porcelana, vários ácidos (ácido sulfúrico), gases (cloro), metais (antimônio), técnicas físico-químicas (destilação, precipitação e sublimação), além de vários equipamentos de laboratório. Na China produzia-se alumínio no século II e a eletricidade era conhecida pelos alquimistas de Bagdá desde o século II a.C.

A origem da alquimia árabe é difícil de ser estabelecida, mas certamente seu cultivo floresceu com o advento do Islã, após a morte do profeta Maomé, em 632 d.C.

Antes deste período, entre 400 d.C. e 700 d.C., há poucas informações disponíveis, mas há evidências de que as idéias gregas de alquimia foram obtidas através do Egito, da Síria e da Pérsia.

A cultura islâmica foi o resultado da influência Bizantina, Nestoriana e Judia, que tinha como componente fundamental às idéias gregas e helenistas.

No século seguinte à morte do profeta o Islã conquistou a Pérsia, a Ásia Menor, o Egito, a Palestina, o norte da África e parte da Europa, Gibraltar e Espanha.

Em 732 d.C. a arremetida árabe foi detida em Poitier, França.

Nos séculos VII e VIII os árabes consolidaram seus domínios e dedicaram-se a absorver a cultura dos centros de saber conquistados, principalmente os gregos e os egípcios.

Fundaram-se academias e centros de estudos, nos séculos VIII e IX, tendo os árabes se empenhado na tarefa de traduzir as obras gregas em filosofia, astronomia, matemática, medicina, religião, alquimia.

Os cristãos na Síria lideraram este movimento sendo também responsáveis pela disseminação dos conhecimentos alquímicos dos gregos e egípcios de Alexandria.

Um livro de alquimia mística com forte vinculação egípcia, o Livro de Crates (Democritos), é conhecido deste período, e relacionado com idéias Herméticas.

Tais idéias místicas foram também consideradas no século seguinte, X, pelo alquimista Muhamad ibn Umail, com seu livro Águas prateadas e terra brilhante, que se tornou muito influente.

Em Harran, uma cidade que era um centro eclético de estudos filosóficos, havia já muito tempo, com mistura de idéias sírias, persas e gregas, e onde se cultivava a alquimia, que tinha se tornado muito popular, o trabalho e o comércio com metais e outras substâncias era intenso.

É natural que as idéias de transmutação de metais e outros conceitos da alquimia grega e egípcia tivessem sido adotados e enriquecidos pelos árabes neste período.

O alquimista muçulmano mais famoso é Jabir ibn Hayya (721-803), considerado o pai da alquimia árabe.

Após ter seu pai decapitado, por participar numa tentativa de derrubada do Califa, foi para a Arábia onde se uniu a uma seita Xiita chamada Ismailiia.

Esta seita cultivava doutrinas místicas, numerologia Pitagórica e adotava uma cosmologia que preconizava uma relação entre o macrocosmo e o microcosmo.

Também patrocinava a publicação de trabalhos em alquimia.

Há mais de 2.000 trabalhos atribuídos a Jabir num período que se estende até o século XIV.

Isto indica que, na realidade, outros autores da Ismailiia assinavam os manuscritos, para garantir circulação, com o nome de Jabir, que na Europa ficou conhecido, séculos depois, como Geber. Por este motivo as obras de Jabir são também conhecidas como a Coletânea de Jabir.

A filosofia natural de Jabir estava relacionada com as doutrinas alquímicas de Alexandria e a filosofia de Aristóteles.

Entretanto, embora adotando o conceito dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar, e suas qualidades: calor, frio, umidade, e secura. Achava que duas delas se combinavam constituindo as qualidades "exteriores" dos metais enquanto as restantes eram "interiores" e inatas. Supunha que metais eram constituídos de mercúrio combinado com enxofre e que diferiam uns dos outros pela diferença de suas qualidades. Acreditava que se a proporção das qualidades fosse conhecida em determinado metal, e se estas fossem separadas do mesmo, haveria a possibilidade de combiná-las em novas proporções e obter metal diferente.

Desta maneira seria possível transformar metais em ouro.

Na parte operacional a destilação destrutiva procurava isolar estas naturezas primitivas dos elementos alquímicos.

As substâncias eram então destiladas repetidamente, freqüentemente centenas de vezes, na esperança de isolar as qualidades básicas.

Supunha-se também que a adição de uma outra substância, que teria o poder de absorver uma das qualidades, facilitaria esta tarefa.

Um outro alquimista muçulmano de destaque, que se dedicou à medicina, é Abu Bakr Muhammad ibn Zakaryya al-Razi (866-925), conhecido como Rahzes em Latim, nascido na cidade de Ray ou Rhagae.

Escreveu 21 livros de alquimia, mas somente alguns são conhecidos.

No Kitab Sirr al-Asrar (Livro do Segredo dos Segredos) Razi faz uma exposição minuciosa e classificatória dos equipamentos e das substâncias utilizadas até então na alquimia.

Classificava as substâncias como animal, vegetal e mineral.

As minerais podiam ser espíritos, pedras, corpos, vitríolos, boraxes e sais.

Os espíritos podiam ser de quatro variedades: dois voláteis e incombustíveis, o mercúrio e o sal amoníaco, e dois voláteis e combustíveis, o enxofre e o arsênico.

As pedras incluíam: galena, stibnita, hematita, pirita, malaquita, vidro, lápis lazuli e gesso.

Sua classificação dos vitríolos não é muito clara, mas incluía neles o sulfato ferroso e o alumen.

Os boraxes incluíam o natrão e os sais incluíam o sal comum, a cal hidratada e os carbonatos de sódio e potássio.

No seu livro Razi menciona outros materiais de uso comum: cinábrio, chumbo branco e vermelho, litargírio, óxido de ferro, óxido de cobre, vinagre de vinho.

Os equipamentos usados no laboratório incluíam frascos, caçarolas, cristalizadores de vidro, copos, jarros com tampa, espátulas, pinças, moinho de pedra para trituração e cadinhos simples e duplos para a purificação de metais.

Fornos de vários tipos, entre os quais o athanor, ou al-tannur, um forno feito de tijolos, no fundo do qual se colocava um recipiente com cinzas envolvendo o material a ser tratado, eram freqüentemente usados.

Para aquecimento usavam velas, chamas de nafta, carvão, e outros materiais combustíveis.

As chamas eram sopradas com foles de couro, mas as chaminés não eram ainda utilizadas.

Os sistemas de destilação usados neste período eram praticamente iguais aos dos alquimistas de Alexandria.

O alambique, ou retorta, era mergulhado em cinzas ou em água sob ação do aquecimento.

Razi também descreve, no seu livro, receitas para a preparação de muitas substâncias, entre as quais polisulfeto de cálcio, a partir de enxofre e cal virgem, e álcalis cáusticos a partir de carbonato de sódio, cal e sal amoníaco.

O al-Qili era obtido por lixiviação de cinzas de plantas.

A solução resultante podia dissolver vários materiais incluindo a mica.

Os textos de Jabir e al-Razi inclinam-se mais para uma apresentação da alquimia prática, experimental, deixando de lado a parte mística e filosófica típica de Alexandria.

Assim, embora admitissem a transmutação de metais e a busca de elixires, os principais alquimistas desta época concentraram-se mais nos aspectos práticos da arte no laboratório.

Esta atitude influenciou não só os alquimistas muçulmanos posteriores como também, séculos mais tarde, os alquimistas europeus.

Um grande filósofo-cientista surgiu na Pérsia no século X, Abu Ali al-Husayn ibn Abd Allah ibn Sina (980-1037) ou Avicena, seu nome no ocidente.

Avicena, um insaciável estudioso, dedicou-se à medicina e à filosofia tendo sido considerado, pelo seu vasto conhecimento, o principal sábio da Pérsia.

É reconhecido no ocidente como príncipe da medicina.

Não era filiado à seita Ismailiia tendo desenvolvido seus conhecimentos por conta própria.

Possivelmente esta ocorrência tenha-lhe proporcionado uma visão mais racionalista da ciência.

Escritor prolífico deixou mais de 200 tratados sobre quase todos os assuntos de seu tempo.

Era um médico extraordinário e um experimentador lúcido.

Embora aceitasse a teoria aristotélica dos elementos Avicena rejeitava a transmutação de metais.

Reconhecia que o que os alquimistas conseguiam na verdade era fazer imitações colorindo os metais vulgares de branco (prata), amarelo (ouro) e cor de cobre.

Acreditava que estas qualidades eram impingidas aos metais e que os processos usados, entre os quais a fusão, por exemplo, não podiam afetar a proporção de seus elementos constituintes.

Considerava que a proporção de tais elementos era uma característica de cada metal.

Assim como suas obras as idéias alquímicas de Avicena tiveram grande influência nos séculos posteriores.

No final do século X aparece um outro livro famoso, Rutbat al-Hakim ou Avanço do Sábio, de autoria de Maslama al-Majriti.

Era um famoso astrônomo mourísco da Espanha, país que tinha sido subjugado pelos árabes no século VIII.

Este livro expõe essencialmente as mesmas idéias dos alquimistas muçulmanos, como Jabir, mas aborda detalhes experimentais que indicavam uma preocupação com aspectos quantitativos das transformações observadas.

A alquimia no mundo muçulmano atingiu seu apogeu no século X.

Como reflexo da situação política inconstante não sofreu avanços racionais na sua interpretação.

Apesar disto os árabes contribuíram substancialmente para a formulação da teoria da composição das substâncias (teoria enxofre-mercúrio).

Cultivaram com intensidade os paradigmas da alquimia helenista já conhecidos de séculos anteriores.

A parte mística da alquimia intensificou-se, entretanto, embora nos séculos XI,XII e XIII surgissem comentaristas e divulgadores da arte, que não acrescentaram nada de importante.

Um dos grandes méritos dos alquimistas árabes foi à tradução das principais obras dos autores antigos para a sua língua e o enriquecimento das idéias de forma mais objetiva.

A divulgação destas obras pelo seu império permitiu, mais tarde, uma verdadeira revolução cultural na Europa.

A Europa só entrou em contato com a alquimia através das invasões árabes, no século VIII, a partir da Espanha, e a sua difusão se consolida quando nobres e religiosos, principalmente os Beneditinos, regressam das Cruzadas. Os árabes invasores fundaram universidades e ricas bibliotecas, que foram destruídas pela fúria das guerras ou pelo trabalho meticuloso da Inquisição Católica e, entre os séculos VIII e XIII, lançaram bases teóricas da alquimia.

Do ponto de vista da alquimia experimental aperfeiçoaram a prática da destilação orientando-a para a separação dos princípios básicos constituintes das substâncias.

Progrediram na classificação dos minerais e contribuíram para a descoberta dos álcalis.

Fizeram progressos no uso de elixires na medicina e na transformação de metais além do estudo de substâncias orgânicas.

Por causa de suas origens, a alquimia desde sempre apresentou um caráter místico, pois absorveu as ciências ocultas da Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Caldéia e Egito. Para representar os metais, os primeiros alquimistas tomaram emprestados do Egito os hieróglifos, que simbolizam as divindades. Os babilônios, por sua vez acreditavam na numerologia: assim como associavam ao número 3 um caráter divino, também relacionavam os sete metais a astros conhecidos na época. Em vista dessa associação, pouco a pouco surge idéia de que a produção de metais depende de eflúvios emanados dos astros.

Sempre sob a influência das ciências ocultas do Oriente Médio, os alquimistas passaram a atribuir propriedades sobrenaturais às plantas, pedras, letras ou agrupamentos de letras, figuras geométricas e números, como o 3, o 4 e o 7, que eram usados como amuletos.

Um reflexo da cultura alquímica nos dias de hoje pode ser identificado quando se pensa que temos a Santíssima Trindade Católica, 4 estações, 4 pontos cardeais, 7 dias, 7 notas musicais, 7 cores no espectro solar etc.

Os alquimistas classificavam os elementos em três grupos, como se pode ver nos dizeres de Paracelso: “Saibam então que todos os sete metais são nascido de uma matéria tripla, a saber: mercúrio, enxofre e sal, mas com coloridos peculiares e distintos”.

Daí a usar fórmulas e recitações mágicas destinadas a invocar deuses e demônios favoráveis às operações químicas foi um passo. Por isso, os alquimistas foram acusados de pacto com o demônio, presos, excomungados e queimados vivos pela Inquisição da Igreja Católica. Não se pode esquecer que os alquimistas da Idade Média viviam numa sociedade que acreditava em anjos e demônios e era subjugada pela poderosa Igreja Católica. Para os leigos, qualquer simples experiência química era considerada obra sobrenatural. Por uma questão de sobrevivência, os manuscritos alquímicos foram elaborados em formas de poemas alegóricos, incompreensíveis aos não-iniciados.

A Alquimia entrou para a clandestinidade, em 1326, sob o pontificado de João XXII, após a divulgação da bula Spondent Pariter, onde os alquimistas eram acusados de enganar o povo utilizando-se de ouro alquímico para fabricar moeda falsa. Apesar de sua postura intransigente em relação a Alquimia, atribuem a esse Papa o tratado alquímico - As Transmutatória e o fato de ter acumulado uma prodigiosa fortuna de procedência alquímica. Por essa época, a história registra as primeiras peregrinações a Santiago de Compostela. A Galícia era rica em minérios e os alquimistas, burlando as leis e dissimulando suas reais intenções, tomavam o manto e o bordão como se fossem pagadores de promessas, indo a procura de seus verdadeiros interesses - um mineral específico, nas minas da Espanha. Até hoje, a tradição conserva a concha vieira (meirelle) e a estrela, símbolos alquímicos por excelência, como identificação dos peregrinos.

A alquimia é uma estranha antepassada da química.

A alquimia, mesmo na sua fase áurea, pode ser considerada como uma meia ciência; teve muitos adeptos, homens e mulheres, que foram laboriosos e brilhantes. Infelizmente, existiram também, refinados trapaceiros. A alquimia, tanto a honesta quanto a desonesta, envolvia-se num manto de mistério. Porém, todo alquimista, tinha três objetivos: transmutar ou transformar metais, como ferro e chumbo, em ouro; curar as doenças e prolongar indefinidamente a vida. Todas essas maravilhas deveriam ser conseguidas por intermédio de uma espécie de "varinha mágica", conhecida como pedra filosofal.

O legado da alquimia serviu de base para a ciência autêntica que é a química hoje. Diversos processos químicos importantes já eram conhecidos séculos antes da alquimia atingir um estágio acerca do qual temos muitas informações. Trabalhos com tinturas e com metais eram fitos na Caldéia e no Egito a 2000 a.C.. Fabricava-se e coloria-se com perfeição o vidro, sendo empregado inclusive para imitar pedras preciosas.

Os alquimistas, herdeiros dessa rica herança, coziam e misturavam, combinavam e separavam, testavam e reexaminavam, sempre na busca da pedra mística. Os experimentos eram muito bem planejados e às vezes demorava ano para o término e nova frustração.

Alguns historiadores afirmam que eles realizavam experiências tão complexas quanto a dos químicos atuais. Seus métodos acompanhavam um modelo ordenadamente disposto e que abrangia 12 operações diferentes (destilação, filtração, etc). Visando preservar os seus segredos, os alquimistas escreviam seus documentos não com palavras, mas com símbolos cabalísticos.

O ramo sério da alquimia abrangia grandes intelectuais da época. Alberto Magno (1193-1280), e seu discípulo Tomás de Aquino foram autores de muitos trabalhos eruditos sobre a natureza. Conta-se que Alberto Magno afirmava poder transformar um dia de inverno num dia de primavera ou até mesmo de verão, de uma hora para outra. Uma lenda narra que Tomás de Aquino deu vida a uma estátua; depois, julgando-a inteligente em demasia, despedaçou-a.

Outro alquimista importante foi Bernado Trevisan. Nascido em 1406, filho de uma distinta família de Pádua (norte da Itália), cresceu escutando as histórias do avô sobre a grande investigação dos alquimistas e tornou-se alquimista. No interior escuro de um velho laboratório cheio de fornos, cadinhos, alambiques e vários tipos de folhas se inclina um velho (B. Trevisan) dedicado a endurecer 2000 ovos de galinha num enorme caldeirão de água fervente. Coloca cuidadosamente as cascas e as apilas em uma grande panela, esquenta-as numa chama suave até que se tornem brancas como a neve. Enquanto isso seu colaborador separa as claras das gemas e submete a putrefação, tudo isso em esterco de cavalo branco. Durante 8 anos, os estranhos produtos são destilados e redestilados para extrair um misterioso líquido branco e um azeite roxo, os quais Trevisan chamava de "dissolventes universais" e com os quais queria lograr a descoberta da "pedra filosofal". Mas no dia da prova definitiva, assim como para outros alquimistas que tentaram, novo fracasso. A pedra dos alquimistas não converteu um só dos metais comuns em ouro.

Trevisan, imperturbável diante do fracasso do experimento com as cascas de ovo, prosseguiu seu trabalho com paciência sobre humana. Passou a vida toda viajando o mundo e gastando seu dinheiro em busca da pedra filosofal. Depois de perder seus bens com trocas de informações com pessoas, que sabendo da fortuna de Trevisan apenas usufruíram da esperança deste homem, ele partiu na busca dos alquimistas autênticos. Passou pela Alemanha, Espanha e por último a França, onde conheceu o trabalho do maestro Enrique, o qual havia finalmente descoberto a fórmula secreta da pedra. Para Trevisan este não era farsante, mas sim um homem de Deus, que buscava sinceramente o germe do ouro.

Ambos esses sonhadores se juntaram e juraram amizade eterna, e chegou o dia em que um banquete seria oferecido a todos os alquimistas da região de Viena. Nesta ocasião foi arrecadado 42 marcos de ouro dos presentes e mais 5 do maestro Enrique, o qual prometeu quintuplicar as moedas num cadinho.

Enrique misturou azufre amarelo com umas gotas de mercúrio em uma redoma de vidro de forma estranha. Colocando a redoma a uma boa altura sobre o fogo, colocou lentamente uns poucos grama de prata e algo como azeite puro de oliva. Antes de fechar finalmente o recipiente de vidro com cinzas quentes e argila, colocou os 47 marcos de ouro. Esta estranha mistura foi colocada num crisol e colocada numa fogueira de fogo roxo. E enquanto os alquimistas comiam e bebiam cordialmente e falavam da grande busca dos sigilos, o cozimento da redoma fervia e borbulhava, desamparado no canto da cozinha. Pacientemente, os alquimistas esperaram que fosse aberta a redoma, mas o experimento resultou em fracasso. Trevisan, que havia desperdiçado 20 marcos de ouro emprestados, jurou nunca mais se volver a pensar na busca pela pedra filosofal. Mas depois de 2 meses de sofrimento, Trevisan volta a estudar a inquietante questão da transmutação dos metais em ouro, e morre frustado com mais de 70 anos de labor e dedicação a uma mesma causa. E quando Trevisan já estava moribundo numa cadeira de rodas ele disse: "Para fazer ouro, deve-se começar com ouro”.

Após 3 anos depois da morte de Trevisam nasce um importante alquimista da história, o qual foi o marco decisivo da virada da alquimia para a química, foi Paracelso (Philipus Aureolus Theofrastus Bombastus von Hohenheim Paracelsus, 1493-1541). Filho de um médico Suíço e ele mesmo professor de medicina, alem de alquimista. Conta-se que certa vez Paracelso queimou os antigos livros de medicina de Galeno e de Avicena, diante de uma turma de estudantes, em sinal de protesto contra as falsas premissas contidas nestas obras. Ele insistia em que os alquimistas deveriam desistir de procurar ouro e passassem a preparar remédios que ajudassem a curar as doenças.

Paracelso rejeitava a ciência médica clássica, dizia não ver utilidade nos conhecimentos acumulados anteriormente. Essa rejeição levou-o na direção dos saberes não-reconhecidos pela esfera da cultura de sua época. Foi muitas vezes chamado de louco, e nunca teve seus livros publicados, pois nenhuma editora o aceitava.

Por 10 anos Paracelso viajou pela Europa, matriculando-se e estudando nas melhores escolas daquela época. Tornou-se famoso e foi o introdutor da aplicação do ópio, compostos de mercúrio, enxofre, ferro e arsênio como medicamentos.

Os alquimistas foram com freqüência chamados de apóstolos da superstição. Mas não devemos esquecer que sem suas corajosas tentativas de resolver os mistérios da matéria a química talvez nunca tivesse nascido. Alguns dos aparatos e utensílios que constituem as ferramentas dos químicos de nossos laboratórios científicos foram introduzidos inicialmente pêlos alquimistas: capela, redoma de destilação, o banho Maria, a balança na sua forma mais primitiva, entre outras colaborações.

Projeto Ampersand

O Projeto Ampersand = & = visará nos próximos dois anos elucidar e por em voga questões pertinentes ao fenômeno "2012".
Tais pontos de destaquer são necessários para preparar a humanidade para as transformações que ocorrerão neste ano e daí em diante; isso girando em torno do pensamento de escritores como Robert Anton Wilson, Terence McKenna, Rupert Sheldrake, entre outros.

Para T. McKenna, o simbolo ampersand "&" seria a expressão da condensação da pedra filosófica, o lapis lazuli dos alquimistas.
Neste sentido este blog visa a ser de certa forma esse próprio "lapis".

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