16 de nov. de 2010

Seu Cérebro é Deus - Timothy Leary

Capítulo 1
TEOLOGIA FAÇA-VOCÊ-MESMO

Quatro meses antes de ter sido demitido da Universidade de Harvard, a Associação de Psicólogos Luteranos nos convidou para que discursássemos na Associação Americana de Psicologia de 1963. Nos anos 50 eu administrei “screening tests” para a maioria dos jovens pastores na Igreja Luterana, e então me perguntei se essas contribuições para a fé estariam, talvez, sendo reconhecidas. Os discursos eram uma tentativa de cientifizar o mito e mitificar a ciência. Nós estávamos tentando, tão romanticamente, tornar heróicas – santificar - nossas vidas, suas vidas, a vida por si só.
Uma dissertação descrevendo minha teologia summa1 foi largamente relançada em várias línguas e provavelmente contribuiu para o desabrochar dos jovens cientistas visionários que nos anos 80, tendo de 30 a 45 anos, estavam trespassando as fronteiras da física, química e biologia. Eu tenho trabalhado na tradução de edições clássicas de teologia, na linguagem da ciência moderna pelos últimos 18 anos, refinando e atualizando. Essa era minha teologia summa e deve ter sido a primeira filosofia de grande amplitude a lidar com evolução, tanto de espécies como de indivíduos; tanto do passado como do futuro.
É seguro estimar que mais de 100 jovens físicos e um grande número de biólogos leram aquele primeiro paper em algum ponto no caminho. Imagine-se um impressionável, brilhante estudante de universidade, por volta de 1964-70, buscando, experimentando, sonhando os sonhos de magnificência, idealismo e esplendor que caracterizaram mais que um período otimista utópico.
TEOLOGIA ATIVISTA
Essa é uma teologia ativista e faça-você-mesmo. Deus é definido em termos de tecnologias envolvidas em criar um universo e construir os estágiosóbvios da evolução. À pessoa interessada em jogar o Jogo-de-Deus são dadas sugestões para que se ativem os vários níveis de inteligência em seus próprios cérebros e DNAs, expressando-as através das ferramentas da ciência moderna. A qualquer ser humano que deseje aceitar a responsabilidade, são oferecidos os poderes tradicionalmente atribuídos à divindade.

CAPÍTULO 2
RITUAL SACRAMENTAL
Há muitos anos atrás, em uma ensolarada tarde em um jardim de Cuernavaca, eu comi 7 tão-chamados “cogumelos sagrados” que me foram dados por um cientista da Universidade do México. Durante as próximas 5 horas, eu fui rodopiado por uma experiência que foi, acima de qualquer questão, a mais profunda experiência “religiosa-filosófica” de minha vida. E foi totalmente elétrica, celular, científica e cinematográfica.
Reações pessoais, por mais que passionais, são sempre relativas e têm pouco significado geral. Depois vêm as questões, “hum?! Por quê? E dai?!”
Muitos fatores predispostos – fisiológicos, emocionais, intelectuais, ético-sociais e financeiros – levam uma pessoa a estar preparada para uma dramática experiência de expansão mental e conduzem outros a se contrair a novos níveis de inteligência. A descoberta do fato de que o cérebro humano possui uma infinidade de potencialidades e pode operar em espaços inesperados nas dimensões do espaço-tempo me deixou ingenuamente animado, amedrontado e um tanto quanto convencido de que havia acordado de um longo sonho ontológico.
Desde minha “brain-activation-illumination” de agosto de 1960, eu tenho repetido esse ritual bioquímico – e, para mim, sacramental - dezenas de milhares de vezes, e todas as subseqüentes “expansões” cerebrais me admiraram com as mesmas revelações filosófico-científicas da primeira experiência.
Durante o período de 1960-68 eu tenho sido sortudo o bastante para colaborar com centenas de cientistas e alunos que se juntaram aos vários projetos de pesquisa e busca. Em nossos “brain-activation centers” em Harvard, no México, Marrocos, Almora, Índia, Millbrook e nas montanhas da Califórnia, nós organizamos “brain-change experiences” para centenas de milhares de pessoas de todas as andanças de vida, incluindo mais de 400 profissionais religiosos de tempo integral – cerca de metade profetizando a fé Cristã ou Judaica e a outra metade pertencendo a religiões orientais, célticas ou pagãs.

PRINCÍPIOS
Em 1962, um grupo informal de pastores, teólogos, ativos acadêmicos e psicólogos religiosos, no ambiente de Harvard, começou a encontrar-se uma vez por mês para dar continuidade a esse princípio. Esse grupo era o núcleo principal de planos da organização que assumiu a fiança para nossa pesquisa de expansão-da-consciência – IFIF*, em 1963, a Fundaçao Castalia em 1963-66 e a Liga para Descoberta Espiritual em 1966. Nosso impulso e liderança originais vieram de um seminário sobre experiência religiosa relacionado à confusão alarmante que afloramos nos círculos psiquiátricos seculares da época.

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DEUS - O ARTISTA HEDONISTA
O conceito de Deus, o Hedonista, emergiu na Grécia nos séculos antes de Cristo. Aqui, as maravilhosas noções de individualidade e democracia afloraram pela primeira vez. Se o ser humano singular é a unidade da vida, então naturalmente o indivíduo vai desenvolver uma filosofia pessoal e selecionar seu próprio estilo de auto-recompensa.
A idéia de beleza, a adoração do corpo humano, sua vestimenta, nutrição, recreação, exibição e sua harmonia com ambientes estéticos duraram pelas hegemonias de Alexandre, Roma, do Catolicismo, apareceram de repente de forma magnífica no Renascimento, andaram na onda do Protestantismo e apareceram no século XX na forma do boêmio, o artista, divertidor, o designer, o(a) playboy-playgirl.
Algumas religiões caprichosamente permitiram cultos que focassem na energia somática e na sensualidade sagrada. O Tantra — tanto Bengali como Tibetano, Zen, Judaico Hasidico, preservaram as noções da kundalini, consciência do cakra, erotismo-espiritual, exuberância absorta e estados místicos alterados. Mas o Hedonismo sempre foi facilmente restringido por estados religiosos centralizados e restritos a uma casta especializada de artistas geralmente padronizados e tolerados pelos soberanos. Isso funcionou bem. Os mestres precisavam dos esteticistas hedonistas para entreter e embelezar enquanto a grande massa do povo era mantida no asceticismo submissivo. As classes mais baixas e as minorias eram usualmente permitidas se pouparem da sensualidade indecente, rigorosamente condenada pelos burgueses moralistas.
No século XX, o conceito de indivíduo de repente se tornou popularizado e vulgarizado. Duas guerras mundiais moveram populações, reduzindo a influência da censura moral paroquial. Psicoanalistas introduziram a noção de auto-progresso. A explosão da cultura do vídeo/filme treinou o povo a ligar e sintonizar o entretenimento que desejassem. A mania do consumismo material dos anos 50 fortificou a idéia de que a pessoa trabalhadora estava titulada a escolher o que era bonito — isto é,coisas compráveis.

RESSURREIÇÃO DO CORPO
Nos anos 60, a tradição de 2.500 anos de auto-descoberta e auto-indulgência finalmente afloraram como um fenômeno massivo. A grande difusão do uso de drogas hedonistas levou à ressurreição do corpo. O consumismo sensual. A liberação sexual. Vestido erótico, dança, fala, impressão, filme, música. Métodos de saúde holísticos. Dieta, jogging, a última moda. A pessoa trabalhadora descobriu que seu próprio corpo pertencia não ao estado ou ao moralista ou doutor autoritário, mas a ela mesma.
O uso continuamente expandido de drogas que “ativam” o cérebro nos anos 70 construiu o momentum hedonista por causa do fato neurológico óbvio de que as drogas “ligam” o corpo. Um dos horrores absortos da experiência de LSD é o
confronto repentino com o seu próprio corpo. Você é jogado de catapulta dentro da matriz de quadrilhões de células enroscadas e sistemas de comunicação somáticos, varrido aos túneis e canais de suas próprias cachoeiras. Você tem visões de processos microscópicos, estranhos e padrões de tecido ondulatórios. Você é socado com a fantástica arte das lojas internas, contraindo-se de medo ou berrando de prazer no incessante empurrão, na batalha, e no transporte do maquinário biológico te absorvendo.

O PARAÍSO DENTRO DE SI
Aqui está a sabedoria antiga de gnósticos, hermetistas, Sufistas, Gurus Tantra, yogis e curadores ocultistas. Seu corpo é o espelho do macrocosmo, o reino do paraíso dentro de você. Tantras Tibetanos e Indianos, e workshops modernos de psicologia treinam os estudantes a prestar atenção nas energias e mensagens do corpo.
Por 1.981 o Americano inteligente estava começando a definir seu corpo como uma estação de recebimento complexa, um satélite de comunicação sagrado, um telescópio bípede, um mosaico de microfones de toque, cheiro, audição e paladar captando as vibrações de sistemas de energia planetários, uma retina em ABC mundial, um tímpano RCA, um “Cheira e Diz” Internacional, um laboratório consolidado de Comidas Gerais. O Deus do senso incomum.

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