Terence McKenna
foi
um brilhante orador e celebridade pop
que colocou-se audaciosamente em primeiro plano como defensor das drogas psicodélicas. Tendo nascido no
Colorado e atingido a maioridade na década de 1960, em Berkeley, na Califórnia, McKenna concluiu em 1969 o bacharelado em ciências, com
especialização em ecologia e conservação no Tussman Experimental College, uma
extensão da UC Berkeley que teve vida curta. Em seguida viajou extensamente
pela Índia, pelo Sudeste Asiático e pela América do Sul em busca de xamãs e
plantas alucinógenas. O termo "drogas psicodélicas" é enganador.
Terence defendia uma maior sofisticação na maneira como as drogas são
categorizadas e discutidas. Desempenhou um papel de formação em um novo campo
de estudo chamado etnomicologia, o estudo da interação entre cogumelos psicoativos, a cultura e a
consciência humana.
A mente poderosa e
abrangente de Terence possibilitou que ele funcionasse em muitos níveis. Ele
era ao mesmo tempo filósofo visionário, etnomicologista pioneiro,
preservacionista botânico, orador de improviso, escritor, trovador do logos,
explorador do mundo e xamã das esferas interiores. O seu trabalho merece uma
abordagem abrangente, que não posso empreender aqui, mas ao nos concentrarmos
na sua teoria da Novidade[1] conseguiremos entender o seu trabalho
com 2012 e
como várias ideias se tornaram firmemente agregadas a 2012. Em The invisible landscape, livro que Terence escreveu e
publicou junto com o seu irmão Dennis em 1975, tomamos conhecimento da singular experiência que
eles realizaram na Colômbia em 1971. Essa experiência deu origem à elaboração da teoria da Novidade. Os irmãos
McKenna tinham viajado com vários amigos para a Colômbia em busca de uma
exótica planta alucinógena chamada uruqué.
Em vez dela, encontraram campos de cogumelos que continham psilocibina.
Depois de passar
várias semanas excursionando e colhendo amostras, Dennis elaborou um plano
experimental: em uma determinada noite, eles comeriam os cogumelos e Dennis
induzia um salto visionário cantarolando vigorosamente, de boca fechada, em um
tom agudo. O catalisador vibratório do zumbido, teoricamente, o abriria para
memórias coletivas e
verdades universais que supostamente residem no DNA. Esse era o plano. Terence narra a
experiência em La Chorrera no seu livro True hallucinations, publicado em 1993:
Enquanto eu observava a minha mente e ouvia os sons ininteligíveis
do meu irmão, comecei a compreender que a experiência havia desencadeado uma
espécie de efeito estranho. Pergunto a mim mesmo por que foi tão fácil para mim
saltar da idéia de que estávamos
tendo uma experiência localizada peculiar para a de que éramos partes
importantes de um fenômeno de âmbito planetário?... A alucinação induzida pela psilocibina fez com que
o impossível e o improvável parecessem prováveis e razoáveis. Fui invadido pelo
êxtase quando me dei conta de que tínhamos cruzado o ponto Omega, que estávamos
agora funcionando nos primeiros momentos do milênio.
Deve ser difícil para o não iniciado digerir o que se passa dentro
dos desbravadores que avançam trôpegos pelo território inexplorado da Mente. Mas o fato é que alguma coisa de fato aconteceu, e embora Dennis acabasse
abandonando a sua viagem alucinógena, Terence foi lançado em uma dança contínua
com o I Ching (um antigo
oráculo chinês), desenvolvendo o seu conteúdo secreto por meio de operações
matemáticas inspiradas pelos lampejos intuitivos que ele estava recebendo por
intermédio dos cogumelos. O I Ching lhe pareceu conter antigas ideias sobre a natureza do tempo. Terence encontrou idéias correspondentes na obra do filósofo Alfred North
Whitehead, cujo termo "concrescência" se encaixava perfeitamente no
que Terence estava vendo, alguma coisa na natureza do tempo que fazia com que
eventos desconexos ao longo da história se acelerassem e convergissem em um
momento preciso no futuro não muito distante. Essa convergência totalizada
tornaria imanente, ou revelaria
no agora, o eschaton, o "objeto transcendental
no final do tempo". O termo eschaton
deriva de pesquisas do Oriente Médio relacionadas com a escatologia, o estudo
dos finais últimos de todas as coisas.
Terence apresentou a ideia de que o tempo não é uma constante e que possui diferentes
qualidades que tendem ou para o "hábito" ou para a "novidade".
Essa ideia contraria uma
premissa fundamental da ciência ocidental, ou seja, de que a qualidade do
tempo é constante. Uma experiência realizada na terça-feira deve ter o mesmo
resultado que uma experiência idêntica realizada na sexta-feira, desde que
todas as outras condições per- maneçam as mesmas. A fluidez do tempo e o avanço de ocorrências novas ou
originais eram o que interessava a Terence e a sua percepção de que a novidade
estava aumentando com o tempo envolvia algo profundo: o tempo e a história
estavam se acelerando e aproximando-se de um ponto culminante. De acordo com os antigos taoístas chineses, a
mudança talvez seja a única constante na natureza, mas a mudança estava se
acelerando.
Ao longo de um
inspirado período de pesquisas no início da década de 1970, Terence formulou uma forma de
onda matemática baseada nas 384 linhas de mutação que formam os 64 hexagramas do I Ching. Cada um dos 64 hexagramas contém seis linhas,
cada uma sendo inteira ou interrompida. Quando consultamos o I Ching como um
oráculo tradicional, construímos sequencialmente essas linhas binárias de baixo
para cima. Quando terminamos, podemos procurar o nosso hexagrama no I Ching: o livro das mutações e consultar a
interpretação. A sequência na qual os 64 hexagramas estão ordenados, conhecida como
sequência do Rei Wen, parece aleatória, mas Terence fez uma análise do
"grau de diferença" entre cada hexagrama sucessivo e encontrou uma
anomalia estatística que sugere que, por alguma razão, a sequência Ken Wen era
um constructo intencional. Com os graus de diferença codificados em valores
numéricos, Terence foi capaz de traçar uma onda, que se tornou a Onda do Tempo
da Novidade.[2] O seu amigo Peter Meyer elaborou a
fórmula e o software de computador, possibilitando que eles a colocassem em
gráfico e investigassem a sua dinâmica.
Terence observou que
a onda do tempo exibia uma qualidade de "semelhança idêntica". Ela
se expandia como um padrão fractal no qual se constatava que a forma de uma
pequena seção considerada da onda era idêntica à forma de uma seção maior da
onda. Como a onda exibia o fluxo e refluxo da novidade dentro do tempo, Terence
chamou essa modelagem fractal do tempo de Ressonância Temporal. Significava que
intervalos maiores, ocorridos havia muito tempo, continham a mesma quantidade
de informações que intervalos mais curtos, mais recentes. A história estava
sendo compactada, estava avançando mais rápido. E o processo tinha que ter um
fim.
A analogia de Terence com o jogo de tetherball descreve habilmente o processo
de aceleração: uma bola amarrada a um poste vai girar bem devagar, mas à medida
que a corda for se enrolando em volta do poste e a bola ficar mais perto dele
ela começa a girar cada vez mais rapidamente. Quanto mais próxima do centro a
bola vai ficando, mais rapidamente ela é puxada na direção dele. O ponto
central é quando a bola teoricamente atinge uma velocidade infinita. Na
verdade, a forma de onda matemática não descreve realmente uma aceleração constante; o padrão staccato ascendente e descendente da onda
implica uma contínua flutuação entre o hábito e a novidade. No entanto, a cada
iteração a onda se inclina na direção da infinita inovação. A tendência da
média aritmética é de crescente novidade, vivenciada como uma mudança
acelerada. Uma das exigências da teoria da Novidade é, portanto que a inovação
infinita será alcançada em uma data específica.
Terence desconfiava que seria possível identificar eventos
notáveis na história que o ajudariam a localizar a data final da onda do tempo.
Tomou a explosão atômica de 1945 como um evento extremamente inovador na
história humana e o sinal de que uma fase final havia começado, um sub-padrão
fractal de 67 anos da totalidade da onda. Desse modo, somou 67 a 1945, e 2012
foi um possível ano-alvo. O crescimento populacional, o pico do petróleo e as
estatísticas da poluição apontavam para o início do século XXI. Em The invisible landscape, Terence menciona o ano de 2012,
mas não aprofunda o nível de precisão. Mais tarde admite que o seu cálculo
original tinha sido 17 de novembro de 2012, mas depois de tomar conhecimento do
calendário maia e da data
final de 21 de dezembro reajustou a forma da onda e constatou que 21 de
dezembro era uma data ainda mais adequada. Assim sendo, o modelo de Terence
ficou para sempre correlacionado com a data final do ciclo de 13 Baktuns do
calendário maia de Conta
Longa.
Embora Terence mencionasse às vezes os maias em vários contextos, em geral devido
ao xamanismo psicoativo
deles, o fato de a sua Onda do Tempo também apontar para o término do ciclo do Conta
Longa maia foi meramente
uma confirmação que apoiava a sua teoria. Ao refletir certa vez sobre o tema,
Terence observou que tanto ele quanto os maias eram entusiastas dos cogumelos com psilocibina e se perguntou se,
de alguma maneira, isso poderia explicar por que tanto o seu sistema quanto o
calendário maia apontavam para 2012.
Nas centenas de
entrevistas e discursos gravados de Terence, muitos dos quais estão livremente
disponíveis na internet, encontramos escassos detalhes a respeito do calendário
maia. Na realidade, a extensão do ciclo de 13 Baktuns é erroneamente informada como sendo de 5.128 ou 5.200 anos. Os motivos pelos quais o calendário maia
aponta para 2012 não
estavam entre as coisas que ele pesquisava. No entanto, o alinhamento precessional
do Sol da galáxia (o alinhamento galáctico) estava presente em The invisible landscape, mencionado de uma maneira breve e
indireta.
Na sua introdução ao
meu livro Maya Cosmogenesis 2012, Terence aproveitou a
oportunidade para oferecer detalhes sobre uma recomendação sua no sentido de
que fosse feita uma investigação adicional do alinhamento galáctico:
Existe alguma base
científica para a idéia de que quando o amanhecer do solstício do inverno
"se postar no centro galáctico poderão ser esperados efeitos físicos
incomuns? Hoje a ciência responde com uma negativa. Entretanto a ciência, ao
contrário da religião, está sempre crescendo, revisitando e revendo as suas
simplificações passadas... O destino humano e o drama mais amplo da galáxia
estão de alguma maneira interligados? Pode ser difícil provar a existência de mecanismos
acoplados, mas a elucidação de mecanismos sutis de acoplamento é o que a nova ciência da dinâmica
está destinada a fazer.
Como acontece com
tanta frequência no processo por meio do qual as ideias se transformam em
avanços revolucionários, a chave para o entendimento de 2012 foi observada mais cedo como uma
singularidade, mas foi desconsiderada. Afinal de contas, alguém poderia notar
tanto o alinhamento quanto a data final, mas não acreditar que eles estivessem
próximos o suficiente um do outro no tempo. Essa seria uma conclusão à primeira
vista que, depois de uma certa reflexão, poderia ser descartada, principalmente
porque o alinhamento poderia ser concebido como um intervalo que se estende ao
longo de pelo menos 36 anos.
Além disso, como
seria possível provar que os maias tinham a intenção de que a sua data final
tivesse como alvo o alinhamento? Esse simplesmente não era um tema que Terence
estava interessado em desenvolver; ele requer um envolvimento a longo prazo com
uma cuidadosa pesquisa de muitas áreas diferentes do pensamento e da
tradição maias. Entretanto, os
meus interesses iriam se encontrar com esse conceito do alinhamento e, em 1992,
eu já estava envolvido com ele. E Terence tem o mérito de ter estimulado o meu
trabalho, embora eu questione o seu requisito de que algo drástico e repentino
deverá ocorrer no dia 22 de dezembro de 2012. (Terence frequentemente usava 22 de dezembro, talvez porque
esse seria o "primeiro" dia da nova era.)
Outra idéia
que
propus a Terence nas nossas conversas — e ele estava sempre disposto a
discutir ideias — baseia-se na
noção de que o fluxo do tempo é subjetivo. A nossa experiência do tempo, rápida
ou lenta, é função do nosso estado mental na ocasião. Esse fato pode ser
observado nos relatos das pessoas mais velhas, para quem o tempo parece passar
muito depressa. Quantas vezes a vovó não disse: "Nossa, parece que acabei
de acordar e já está na hora de ir para a cama" ou "Parece que o
Natal passado foi ontem!"
Existem razões neurológicos genuínas para essa experiência das
pessoas idosas, baseadas no processamento de informações sináptico do cérebro, que se desacelera com a
idade. Poderíamos dizer que a largura de banda se estreitou e, portanto, os
eventos (tempo) precisam passar através de um canal menor. A consciência
restringida dessa maneira sente que o tempo está passando mais rapidamente. Os
visionários que experimentam o êxtase, contudo, passam por um processamento
cerebral mais elevado e intenso, uma dilatação da largura de banda, o que resulta em uma desaceleração do tempo.
Quando essa desaceleração é tão intensa que a experiência do fluxo do tempo
cessa, a porta para a eternidade se abre. Eternidade não é um longo período de
tempo e sim a cessação do tempo.
O estado de estar profundamente apaixonado oferece outro exemplo.
Quando duas pessoas estão tendo uma experiência de pico íntima, o coração e a
mente (até mesmo os olhos) se dilatam. Pode ser uma experiência profunda na
qual, ambas sentem que ingressaram, juntas, em um refúgio sagrado e detectaram
um vislumbre da eternidade. Esta última é a experiência da cessação da
passagem do tempo, tempo que foi desacelerado porque a mente e o coração estavam completamente abertos ao amor.
A expansão da consciência que frequentemente ocorre após a ingestão de plantas psicoativas também pode
proporcionar a experiência de vislumbrar o infinito ou a eternidade, como informaram os que passaram por ela. Nas
antigas religiões de mistério, a experiência era uma iniciação nos Mistérios
eternos.
Descrevo a seguir a
experiência de pensamento que compartilhei com Terence. Imagine que a sua
consciência é uma mangueira de jardim. Uma mangueira com um diâmetro maior
significa uma consciência mais ampla. A água que flui através da mangueira
representa eventos que ocorrem no tempo. O volume de água que deseja passar
através da mangueira representa o número de eventos que estão passando pela
mente. Mesmo que essa quantidade permaneça constante, a velocidade na qual a
água passa através da mangueira (a mente) depende do quanto a mangueira está
dilatada ou comprimida. (Se apertarmos a extremidade da mangueira, a água flui
mais rapidamente e com mais força.) Esse modelo propõe que a nossa mente
determina se o tempo se acelera ou não.
A aceleração do tempo
pode não ser uma propriedade inerente da história, a consequência necessária da
passagem do tempo, podendo também ser o resultado de uma crescente contração da consciência. Essa ideia adquire
significado se considerarmos a antiga doutrina hindu das Eras do Mundo, as
Yugas, na qual cada Yuga sucessiva se caracteriza por uma diminuição da
espiritualidade, uma contínua restrição da consciência. O tempo se acelera
porque a consciência se fecha. Se a velocidade da passagem do tempo é, de fato,
uma função da dilatação da consciência, então a aceleração do tempo é um
resultado direto da contração
coletiva da consciência (a
separação de um contexto espiritual mais amplo e a ascensão do materialismo)
que o fim de um ciclo histórico ocasiona.
Terence era fã da
obra de Teilhard de Chardin, cujo Ponto Omega e conceitos da noosfera também
influenciaram José Argüelles (o
conceito da "tecnosfera"deste último é um tipo de noosfera
tecnológica). O trabalho de Chardin aplica basicamente a evolução darwiniana ao
desenvolvimento espiritual. Foi uma tentativa de unir a ciência à teologia
espiritual. Chardin era um padre-cientista jesuíta. O seu conceito do Ponto
Omega propunha que a humanidade estava se aproximando da consciência em um
nível mais elevado, de um salto extraordinário para um novo nível de
complexidade organizacional, da mesma maneira como as células criam um órgão e
os órgãos trabalham em conjunto no organismo.
O Ponto Ômega é bastante semelhante à Singularidade de McKenna, o seu
"objeto transdimensional"
que
supostamente nascerá da concrescência que terá lugar em 21 de dezembro de 2012.
Esse novo estado de existência toca e reflete mais intimamente o estado
fundamental infinito e eterno do qual se originou. Dessa maneira, os seres
evoluem para progressivamente refletir de uma forma mais plena o seu Criador
infinito. Uma objeção ao modelo de Chardin, que igualmente se aplicaria ao de McKenna, é que o infinito não
pode de modo nenhum "evoluir". Ele já está presente, latente, e nada
no conteúdo do processo histórico é capaz de "construí-lo". É mais
exato pensar nele como sendo progressivamente revelado. De que outra maneira
poderemos explicar as visões interiores dos místicos que vislumbraram a
eternidade? A idéia de Darwin é um processo
ascendente, de baixo para cima, de novas formas e espécies que evoluem ao longo
do tempo. Chardin acrescenta uma peculiaridade ao sugerir que os níveis
discretos preexistem na própria
arquitetura do universo, assim como os elétrons tendem a se agrupar em órbitas
definidas ao redor do próton, fornecendo-nos elementos previsíveis definidos
por leis. Mas ainda assim trata-se de um darwinismo espiritualizado no qual as mutações resultam em um ser plenamente
consciente da sua base e origem eternas. No entanto, eis a principal
diferença: para Chardin, assim como para Terence, o processo era teleológico, o que
significa que é puxado para a frente pelo estado final e não empurrado por trás,
ao longo do tempo, pela evolução histórica.
Esse conceito descendente, top-down, de cima para baixo, é uma das ideias fundamentais
da Filosofia Perene, uma visão do cosmo inspirada pela experiência direta da
verdade universal. Essa perspectiva da espiritualidade é encontrada, por
exemplo, na sabedoria metafísica ensinada por Suhrawardi, sábio persa do século XII.
Trata-se de um eco das Ideias
preexistentes
de Platão, que estão um pouco mais próximas do conceito de que toda mudança
descende de cima, da esfera espiritual imaterial que se derrama sobre as esferas inferiores de manifestação física.
A idéia é estranha
para o cristianismo, exceto para as suas formas mais esotéricas, sendo no
entanto fundamental para a metafísica islâmica e oriental. Na realidade, a
teleologia ameaça a causalidade, a essência do princípio de causa e efeito da
ciência ocidental, motivo pelo qual ela é execrada.
A fim de não irritar demais os sacerdotes do cienticismo, tanto McKenna quanto Chardin tentaram
discretamente incorporar aos modelos deficientes da ciência ocidental certas
antigas ideias perenes
relacionadas com a maneira como o tempo e a consciência efetivamente funcionam.
No entanto, introduzir percepções orientais em receptáculos construídos pela mente ocidental é
como tentar espremer o oceano em uma garrafa. As implicações do Ponto Omega, da
Singularidade e da 2012ologia requerem uma revisão radical da abordagem da
filosofia ocidental da realidade. Em poucas palavras, a consciência não evolui;
ela recorda, ou desperta, para o seu pleno potencial. Com base nessa
perspectiva de cima para baixo, o cérebro físico evolui a fim de acomodar a mente
desperta.
O meu amigo Curt Joy assinalou que Terence mencionou, em uma ou outra ocasião,
praticamente tudo a respeito de 2012, de
modo que não é realmente possível associá-lo a uma posição oficial,
especialmente porque ele não está mais conosco para poder participar de um
diálogo. A sua teoria, contudo, é mais conhecida por duas coisas: o tempo se
acelera e alguma coisa definida vai acontecer no dia 21 de dezembro de 2012. Já
abordamos a não reconhecida fonte subjetiva da experiência do tempo que se acelera.
No outro ponto, o futuro pode ser predeterminado, mas a nossa experiência
subjetiva dele não o é. Assim sendo, a ideia de um "algo" definido, previsível, acontecer para todos
nós especificamente no dia 21 de dezembro de 2012 parece incrivelmente irrealista.
É possível que, para Terence, a ideia tenha feito sentido como uma projeção
da repentina "ruptura de plano" vivenciada na expansão psicodélica.
Projetada no processo histórico, uma ruptura de plano global deveria ocorrer no
momento exato em que as moléculas de eventos do tempo caíssem em avalanche na
glândula pineal central da nossa consciência coletiva. Em outras palavras, a
expansão visionária vivenciada pelo xamã talvez tenha se tornado, para Terence, um modelo para uma expansão
coletiva de uma consciência superior. Essa ideia talvez encerre alguma verdade, mas o
principal problema relacionado com essa conjuntura é, na minha opinião, o
papel do livre-arbítrio individual.
O aviso que eu gostaria de dar aqui aos recém-chegados é que a ideia de que alguma
coisa ocorra, de repente, no dia 21 de dezembro de 2012 é altamente improvável.
Pessoalmente, não acredito que isso esteja embutido na arquitetura de eventos
externos da maneira como Terence expôs na sua teoria da Novidade. Analogamente,
a experiência do tempo que acelera provavelmente tem mais a ver com o estado da
nossa consciência do que com o transbordar de eventos externos na história.
Finalmente, gostaria de apresentar uma variação confusa da teoria
da Novidade de Terence. Usando um dos termos prediletos de Terence, é realmente
um enigma. A sua teoria da Novidade, ou teoria Time Wave Zero, descreve uma
intensificação de eventos inovadores ou novos à medida que nos aproximamos de
2012. Ao examinar os eventos históricos, Terence percebia a novidade
aumentando quando eventos fora do comum ou inesperados aconteciam. A queda do
Muro de Berlim, por exemplo. Assim sendo, o evento inovador supremo, a
ocorrência mais estranha e inesperada, deverá ocorrer em 21 de dezembro de 2012
— e esse evento seria a própria teoria falhar,
ou seja, com uma grande rotina do dia a dia tendo lugar. Mas, com o dia
decisivo ocorrendo dessa maneira, a teoria então instantaneamente se confirma.
O grandioso Nada em Particular no final do tempo seria a coisa mais inesperada e inovadora que
possivelmente poderia ocorrer, de acordo com a própria Teoria da Novidade. O
seu fracasso provaria a sua eficácia. Isso é um enigma. Espero que Terence
esteja sorrindo da minha idéia em algum lugar.