28 de dez. de 2009

ALQUIMIA


A alquimia é a arte de trabalhar e aperfeiçoar os corpos com a ajuda da natureza. No sentido restrito do termo, a alquimia sendo uma técnica é, por isso, uma arte prática. Como tal, ela assenta sobre um conjunto de teorias relativas à constituição da matéria, à formação de substâncias inanimadas e vivas, etc.

A alquimia operativa, aplicação direta da alquimia teórica, é a procura da pedra filosofal. Ela reveste-se de dois aspectos principais: a medicina universal e a transmutação dos metais, sendo uma, a prova real da outra.

Alquimia, técnica antiga dedicada, principalmente, a descobrir uma substância que transmutaria os metais mais comuns em ouro e prata, e a encontrar meios de prolongar indefinidamente a vida humana. Foi a predecessora da química. Durante a Idade Média, muitas pessoas pensaram em fabricar ou descobrir uma substância, a famosa pedra filosofal, muito mais perfeita do que o ouro, que poderia ser utilizada para levar os metais mais comuns à perfeição do ouro.

A alquimia é das ciências ocultas que, atualmente, mais interesse tem despertado não só pelos inúmeros livros que ao longo dos tempos foram escritos sobre a Arte Hermética, mas também, pela curiosidade de saber algo sobre a veracidade da misteriosa Pedra Filosofal, também conhecida por Medicina Universal.

Durante muito tempo a alquimia foi sinônimo de charlatanismo. Muito do descrédito da alquimia era devido à falta de publicações sérias, pois muitas delas são imitações grosseiras, feitas por sopradores (falsos alquimistas) dos verdadeiros e antigos textos, nas quais se une o absurdo com a ignorância. Atualmente, devido ao grande número de traduções das obras clássicas mais importantes dos grandes Mestres, a opinião de muitas pessoas mudou completamente.

A origem da alquimia se perde no tempo, sendo mais antiga do que a história da humanidade. Seu verdadeiro início é desconhecido e envolto em obscuridade e mistério. Assim, seu surgimento confunde-se com a origem e evolução do homem sobre a Terra.

Então, a história da Alquimia remonta a tempos muito antigos. Talvez seja remanescente do maior conhecimento alcançado por alguma fantástica civilização que tenha florescido na Terra e desaparecido, há milhares de anos. A existência dessa civilização superior pode ser pressentida na tradição de quase todos os povos, conscientes de um estágio fantástico vivido por seus ancestrais. Determinados vestígios de uma sabedoria superior, principalmente com relação ao conhecimento da energia, servem de indício a que, tal estágio de evolução científica, realmente tenha existido no passado da humanidade, sendo impossível atribuí-lo ao homem de Neandertal.

A utilização e o controle do fogo separou o animal irracional do ser humano. Nos primórdios, não se produzia o fogo, porém ele era controlado e utilizado para aquecer, iluminar, assar alimentos, além de servir para manejar alguns materiais, como a madeira. Bem mais tarde conseguiu-se produzir e manufaturar materiais com metal, a partir de metais encontrados na forma livre e posteriormente partindo dos minérios.

Muitos associam a origem da alquimia à herança de conhecimentos de uma antiga civilização que teria sido extinta. Na Terra, já teriam existido inúmeras outras civilizações em diversas épocas remotas, dentre elas várias eram mais evoluídas que a nossa. Estas civilizações tiveram uma existência cíclica, com o nascimento, desenvolvimento e morte ocorrida provavelmente por meio de grandes catástrofes, como a queda de um grande meteoro, inundações, erupções vulcânicas, dentre outras que acabavam por reduzir grandes civilizações a um número ínfimo de sobreviventes ou mesmo por dizimá-las, fazendo com que uma nova civilização brotasse das cinzas. Os conhecimentos sobre a alquimia estariam impregnados no inconsciente coletivo de todas as civilizações até hoje ou poderiam ter sido transmitidos pelos poucos sobreviventes, desta maneira a alquimia teria resistido ao tempo.
Os textos chineses antigos se referem as "ilhas dos bem aventurados" que eram habitadas por imortais. Acreditava-se que ervas contidas nestas três ilhas após sofrerem um preparo poderiam produzir a juventude eterna, seria como o elixir da longa vida da alquimia.

No ocidente, o Egito é considerado o criador da alquimia. O próprio nome é de origem árabe, com raiz grega (elkimyâ). Kimyâ deriva de Khen (ou chem), que significa "o país negro", nome dado ao Egito na Antigüidade. Outros acham que se relaciona ao vocábulo grego derivado de chyma, que se relaciona com a fundição de metais.

Os alquimistas relacionam a sua origem ao deus egípcio Tote, que os gregos chamavam de Hermes (Hermes Trimegisto). Alguns alquimistas o consideravam como um rei antigo que realmente teria existido, sendo o primeiro sábio e inventor das ciências e do alfabeto. Por causa de Hermes a alquimia também ficou conhecida como arte hermética ou ciência hermética.

Os relatos mais remotos de doutrinas que utilizavam os preceitos alquímicos, remontam de uma lenda que menciona o seu uso pelos chineses em 4.500 a.C. Ao que parece ela teria aflorado do taoísmo clássico (Tao Chia) e do taoísmo popular, religioso e mágico (Tao Chiao). Porém os textos alquímicos começaram a surgir na dinastia Tang, por volta de 600 a.C. Na China, o mais famoso alquimista foi Ko Hung (cujo nome verdadeiro era Pao Pu-tzu, viveu de 249-330 d.C.) que acreditava que com a alquimia poderia superar a mortalidade. Atribui-se a ele a autoria de mais de cem livros sobre o assunto, dos quais o mais famoso é "O Mestre que Preserva sua Simplicidade Primitiva". Teria aprendido a alquimia por volta de 220 d.C com Tso Tzu. O tratado de Ko Hung, além da alquimia trata também da ciência da alma e das ciências naturais. Sua obra trata tanto do elixir da longa vida bem como da transmutação dos metais. Até então a alquimia chinesa era puramente espiritual e foi Ko Hung que introduziu o materialismo, provavelmente devido a influências externas. Ela foi influenciada também pelo I Ching "O livro das Mutações". Posteriormente seguiu a escola dos cinco elementos, que mesmo assim permaneceu quase que completamente mental-espiritual.

Na China a alquimia também ficou vinculada à preparação artificial do cinábrio (minério do qual se extraía o mercúrio - sulfeto de mercúrio), que era considerado uma substância talismânica associada à manutenção da saúde e a imortalidade. A metalurgia, principalmente o ato da fundição, era um trabalho que deveria ser realizado por homens puros conhecedores dos ritos e do ofício. A transformação espiritual era simbolizada pelo "novo nascimento", associada à obtenção do metal a partir do minério (cinábrio e mercúrio).

A filosofia hindu de 1000 a.C. apresentava algumas semelhanças com a alquimia chinesa, como por exemplo, o soma cujo conceito assemelhava-se ao do elixir da longa vida.

No Egito a alquimia teria surgido no século III d.C. e demonstrava uma influência do sistema filosófico-religioso da época helenística misturando conhecimentos médicos com metalúrgicos. A cidade de Alexandria era o reduto dos alquimistas. O alquimista grego mais famoso foi Zózimo (século IV), que nasceu em Panópolis e viveu em Alexandria, escreveu uma grande quantidade de obras. Nesta época, várias mulheres dedicavam-se a alquimia, como por exemplo, Maria, a judia, que inventou o um banho térmico com água muito utilizado nos laboratórios atualmente, o "banho-maria", Cleópatra que possivelmente não seria a Rainha Cleópatra, Copta e Teosébia. Os persas conheciam a medicina, magia e alquimia. A alquimia possuía um pouco da imagem da população de Alexandria, era uma mistura das práticas helenísticas, caldaicas, egípcias e judaicas.

Alexandre "o Grande" foi quem teria disseminado a alquimia durante suas conquistas aos povos bizantinos e posteriormente aos árabes. Os árabes, sob a influência dos egípcios e chineses, trouxeram a alquimia para o ocidente ao redor do ano de 950, inicialmente para a Espanha. Construíram-se escolas e bibliotecas que atraiam inúmeros estudiosos. Conta-se que o primeiro europeu a conhecer a alquimia foi o teólogo e matemático monge Gerbert que mais tarde tornou-se papa, no período de 999/1003, com o nome de Silvestre II. Na Itália Miguel Scott, astrólogo, escreveu uma obra intitulada De Secretis em que a alquimia estava constantemente presente.

No século X, a alquimia chinesa renunciou a preparação de ouro e se concentrou mais na parte espiritual. Ao invés de fazerem operações alquímicas com metais, a maioria dos alquimistas realizavam experimentos diretamente sobre seu corpo e espírito. Esta retomada a uma ciência espiritual teve como ponto culminante no século XIII com o taoísmo budaizante, com as práticas da escola Zen.
A alquimia deixou muitas contribuições para a química, como subproduto de seus estudos, dentre eles pode-se citar: a pólvora, a porcelana, vários ácidos (ácido sulfúrico), gases (cloro), metais (antimônio), técnicas físico-químicas (destilação, precipitação e sublimação), além de vários equipamentos de laboratório. Na China produzia-se alumínio no século II e a eletricidade era conhecida pelos alquimistas de Bagdá desde o século II a.C.

A origem da alquimia árabe é difícil de ser estabelecida, mas certamente seu cultivo floresceu com o advento do Islã, após a morte do profeta Maomé, em 632 d.C.

Antes deste período, entre 400 d.C. e 700 d.C., há poucas informações disponíveis, mas há evidências de que as idéias gregas de alquimia foram obtidas através do Egito, da Síria e da Pérsia.

A cultura islâmica foi o resultado da influência Bizantina, Nestoriana e Judia, que tinha como componente fundamental às idéias gregas e helenistas.

No século seguinte à morte do profeta o Islã conquistou a Pérsia, a Ásia Menor, o Egito, a Palestina, o norte da África e parte da Europa, Gibraltar e Espanha.

Em 732 d.C. a arremetida árabe foi detida em Poitier, França.

Nos séculos VII e VIII os árabes consolidaram seus domínios e dedicaram-se a absorver a cultura dos centros de saber conquistados, principalmente os gregos e os egípcios.

Fundaram-se academias e centros de estudos, nos séculos VIII e IX, tendo os árabes se empenhado na tarefa de traduzir as obras gregas em filosofia, astronomia, matemática, medicina, religião, alquimia.

Os cristãos na Síria lideraram este movimento sendo também responsáveis pela disseminação dos conhecimentos alquímicos dos gregos e egípcios de Alexandria.

Um livro de alquimia mística com forte vinculação egípcia, o Livro de Crates (Democritos), é conhecido deste período, e relacionado com idéias Herméticas.

Tais idéias místicas foram também consideradas no século seguinte, X, pelo alquimista Muhamad ibn Umail, com seu livro Águas prateadas e terra brilhante, que se tornou muito influente.

Em Harran, uma cidade que era um centro eclético de estudos filosóficos, havia já muito tempo, com mistura de idéias sírias, persas e gregas, e onde se cultivava a alquimia, que tinha se tornado muito popular, o trabalho e o comércio com metais e outras substâncias era intenso.

É natural que as idéias de transmutação de metais e outros conceitos da alquimia grega e egípcia tivessem sido adotados e enriquecidos pelos árabes neste período.

O alquimista muçulmano mais famoso é Jabir ibn Hayya (721-803), considerado o pai da alquimia árabe.

Após ter seu pai decapitado, por participar numa tentativa de derrubada do Califa, foi para a Arábia onde se uniu a uma seita Xiita chamada Ismailiia.

Esta seita cultivava doutrinas místicas, numerologia Pitagórica e adotava uma cosmologia que preconizava uma relação entre o macrocosmo e o microcosmo.

Também patrocinava a publicação de trabalhos em alquimia.

Há mais de 2.000 trabalhos atribuídos a Jabir num período que se estende até o século XIV.

Isto indica que, na realidade, outros autores da Ismailiia assinavam os manuscritos, para garantir circulação, com o nome de Jabir, que na Europa ficou conhecido, séculos depois, como Geber. Por este motivo as obras de Jabir são também conhecidas como a Coletânea de Jabir.

A filosofia natural de Jabir estava relacionada com as doutrinas alquímicas de Alexandria e a filosofia de Aristóteles.

Entretanto, embora adotando o conceito dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar, e suas qualidades: calor, frio, umidade, e secura. Achava que duas delas se combinavam constituindo as qualidades "exteriores" dos metais enquanto as restantes eram "interiores" e inatas. Supunha que metais eram constituídos de mercúrio combinado com enxofre e que diferiam uns dos outros pela diferença de suas qualidades. Acreditava que se a proporção das qualidades fosse conhecida em determinado metal, e se estas fossem separadas do mesmo, haveria a possibilidade de combiná-las em novas proporções e obter metal diferente.

Desta maneira seria possível transformar metais em ouro.

Na parte operacional a destilação destrutiva procurava isolar estas naturezas primitivas dos elementos alquímicos.

As substâncias eram então destiladas repetidamente, freqüentemente centenas de vezes, na esperança de isolar as qualidades básicas.

Supunha-se também que a adição de uma outra substância, que teria o poder de absorver uma das qualidades, facilitaria esta tarefa.

Um outro alquimista muçulmano de destaque, que se dedicou à medicina, é Abu Bakr Muhammad ibn Zakaryya al-Razi (866-925), conhecido como Rahzes em Latim, nascido na cidade de Ray ou Rhagae.

Escreveu 21 livros de alquimia, mas somente alguns são conhecidos.

No Kitab Sirr al-Asrar (Livro do Segredo dos Segredos) Razi faz uma exposição minuciosa e classificatória dos equipamentos e das substâncias utilizadas até então na alquimia.

Classificava as substâncias como animal, vegetal e mineral.

As minerais podiam ser espíritos, pedras, corpos, vitríolos, boraxes e sais.

Os espíritos podiam ser de quatro variedades: dois voláteis e incombustíveis, o mercúrio e o sal amoníaco, e dois voláteis e combustíveis, o enxofre e o arsênico.

As pedras incluíam: galena, stibnita, hematita, pirita, malaquita, vidro, lápis lazuli e gesso.

Sua classificação dos vitríolos não é muito clara, mas incluía neles o sulfato ferroso e o alumen.

Os boraxes incluíam o natrão e os sais incluíam o sal comum, a cal hidratada e os carbonatos de sódio e potássio.

No seu livro Razi menciona outros materiais de uso comum: cinábrio, chumbo branco e vermelho, litargírio, óxido de ferro, óxido de cobre, vinagre de vinho.

Os equipamentos usados no laboratório incluíam frascos, caçarolas, cristalizadores de vidro, copos, jarros com tampa, espátulas, pinças, moinho de pedra para trituração e cadinhos simples e duplos para a purificação de metais.

Fornos de vários tipos, entre os quais o athanor, ou al-tannur, um forno feito de tijolos, no fundo do qual se colocava um recipiente com cinzas envolvendo o material a ser tratado, eram freqüentemente usados.

Para aquecimento usavam velas, chamas de nafta, carvão, e outros materiais combustíveis.

As chamas eram sopradas com foles de couro, mas as chaminés não eram ainda utilizadas.

Os sistemas de destilação usados neste período eram praticamente iguais aos dos alquimistas de Alexandria.

O alambique, ou retorta, era mergulhado em cinzas ou em água sob ação do aquecimento.

Razi também descreve, no seu livro, receitas para a preparação de muitas substâncias, entre as quais polisulfeto de cálcio, a partir de enxofre e cal virgem, e álcalis cáusticos a partir de carbonato de sódio, cal e sal amoníaco.

O al-Qili era obtido por lixiviação de cinzas de plantas.

A solução resultante podia dissolver vários materiais incluindo a mica.

Os textos de Jabir e al-Razi inclinam-se mais para uma apresentação da alquimia prática, experimental, deixando de lado a parte mística e filosófica típica de Alexandria.

Assim, embora admitissem a transmutação de metais e a busca de elixires, os principais alquimistas desta época concentraram-se mais nos aspectos práticos da arte no laboratório.

Esta atitude influenciou não só os alquimistas muçulmanos posteriores como também, séculos mais tarde, os alquimistas europeus.

Um grande filósofo-cientista surgiu na Pérsia no século X, Abu Ali al-Husayn ibn Abd Allah ibn Sina (980-1037) ou Avicena, seu nome no ocidente.

Avicena, um insaciável estudioso, dedicou-se à medicina e à filosofia tendo sido considerado, pelo seu vasto conhecimento, o principal sábio da Pérsia.

É reconhecido no ocidente como príncipe da medicina.

Não era filiado à seita Ismailiia tendo desenvolvido seus conhecimentos por conta própria.

Possivelmente esta ocorrência tenha-lhe proporcionado uma visão mais racionalista da ciência.

Escritor prolífico deixou mais de 200 tratados sobre quase todos os assuntos de seu tempo.

Era um médico extraordinário e um experimentador lúcido.

Embora aceitasse a teoria aristotélica dos elementos Avicena rejeitava a transmutação de metais.

Reconhecia que o que os alquimistas conseguiam na verdade era fazer imitações colorindo os metais vulgares de branco (prata), amarelo (ouro) e cor de cobre.

Acreditava que estas qualidades eram impingidas aos metais e que os processos usados, entre os quais a fusão, por exemplo, não podiam afetar a proporção de seus elementos constituintes.

Considerava que a proporção de tais elementos era uma característica de cada metal.

Assim como suas obras as idéias alquímicas de Avicena tiveram grande influência nos séculos posteriores.

No final do século X aparece um outro livro famoso, Rutbat al-Hakim ou Avanço do Sábio, de autoria de Maslama al-Majriti.

Era um famoso astrônomo mourísco da Espanha, país que tinha sido subjugado pelos árabes no século VIII.

Este livro expõe essencialmente as mesmas idéias dos alquimistas muçulmanos, como Jabir, mas aborda detalhes experimentais que indicavam uma preocupação com aspectos quantitativos das transformações observadas.

A alquimia no mundo muçulmano atingiu seu apogeu no século X.

Como reflexo da situação política inconstante não sofreu avanços racionais na sua interpretação.

Apesar disto os árabes contribuíram substancialmente para a formulação da teoria da composição das substâncias (teoria enxofre-mercúrio).

Cultivaram com intensidade os paradigmas da alquimia helenista já conhecidos de séculos anteriores.

A parte mística da alquimia intensificou-se, entretanto, embora nos séculos XI,XII e XIII surgissem comentaristas e divulgadores da arte, que não acrescentaram nada de importante.

Um dos grandes méritos dos alquimistas árabes foi à tradução das principais obras dos autores antigos para a sua língua e o enriquecimento das idéias de forma mais objetiva.

A divulgação destas obras pelo seu império permitiu, mais tarde, uma verdadeira revolução cultural na Europa.

A Europa só entrou em contato com a alquimia através das invasões árabes, no século VIII, a partir da Espanha, e a sua difusão se consolida quando nobres e religiosos, principalmente os Beneditinos, regressam das Cruzadas. Os árabes invasores fundaram universidades e ricas bibliotecas, que foram destruídas pela fúria das guerras ou pelo trabalho meticuloso da Inquisição Católica e, entre os séculos VIII e XIII, lançaram bases teóricas da alquimia.

Do ponto de vista da alquimia experimental aperfeiçoaram a prática da destilação orientando-a para a separação dos princípios básicos constituintes das substâncias.

Progrediram na classificação dos minerais e contribuíram para a descoberta dos álcalis.

Fizeram progressos no uso de elixires na medicina e na transformação de metais além do estudo de substâncias orgânicas.

Por causa de suas origens, a alquimia desde sempre apresentou um caráter místico, pois absorveu as ciências ocultas da Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Caldéia e Egito. Para representar os metais, os primeiros alquimistas tomaram emprestados do Egito os hieróglifos, que simbolizam as divindades. Os babilônios, por sua vez acreditavam na numerologia: assim como associavam ao número 3 um caráter divino, também relacionavam os sete metais a astros conhecidos na época. Em vista dessa associação, pouco a pouco surge idéia de que a produção de metais depende de eflúvios emanados dos astros.

Sempre sob a influência das ciências ocultas do Oriente Médio, os alquimistas passaram a atribuir propriedades sobrenaturais às plantas, pedras, letras ou agrupamentos de letras, figuras geométricas e números, como o 3, o 4 e o 7, que eram usados como amuletos.

Um reflexo da cultura alquímica nos dias de hoje pode ser identificado quando se pensa que temos a Santíssima Trindade Católica, 4 estações, 4 pontos cardeais, 7 dias, 7 notas musicais, 7 cores no espectro solar etc.

Os alquimistas classificavam os elementos em três grupos, como se pode ver nos dizeres de Paracelso: “Saibam então que todos os sete metais são nascido de uma matéria tripla, a saber: mercúrio, enxofre e sal, mas com coloridos peculiares e distintos”.

Daí a usar fórmulas e recitações mágicas destinadas a invocar deuses e demônios favoráveis às operações químicas foi um passo. Por isso, os alquimistas foram acusados de pacto com o demônio, presos, excomungados e queimados vivos pela Inquisição da Igreja Católica. Não se pode esquecer que os alquimistas da Idade Média viviam numa sociedade que acreditava em anjos e demônios e era subjugada pela poderosa Igreja Católica. Para os leigos, qualquer simples experiência química era considerada obra sobrenatural. Por uma questão de sobrevivência, os manuscritos alquímicos foram elaborados em formas de poemas alegóricos, incompreensíveis aos não-iniciados.

A Alquimia entrou para a clandestinidade, em 1326, sob o pontificado de João XXII, após a divulgação da bula Spondent Pariter, onde os alquimistas eram acusados de enganar o povo utilizando-se de ouro alquímico para fabricar moeda falsa. Apesar de sua postura intransigente em relação a Alquimia, atribuem a esse Papa o tratado alquímico - As Transmutatória e o fato de ter acumulado uma prodigiosa fortuna de procedência alquímica. Por essa época, a história registra as primeiras peregrinações a Santiago de Compostela. A Galícia era rica em minérios e os alquimistas, burlando as leis e dissimulando suas reais intenções, tomavam o manto e o bordão como se fossem pagadores de promessas, indo a procura de seus verdadeiros interesses - um mineral específico, nas minas da Espanha. Até hoje, a tradição conserva a concha vieira (meirelle) e a estrela, símbolos alquímicos por excelência, como identificação dos peregrinos.

A alquimia é uma estranha antepassada da química.

A alquimia, mesmo na sua fase áurea, pode ser considerada como uma meia ciência; teve muitos adeptos, homens e mulheres, que foram laboriosos e brilhantes. Infelizmente, existiram também, refinados trapaceiros. A alquimia, tanto a honesta quanto a desonesta, envolvia-se num manto de mistério. Porém, todo alquimista, tinha três objetivos: transmutar ou transformar metais, como ferro e chumbo, em ouro; curar as doenças e prolongar indefinidamente a vida. Todas essas maravilhas deveriam ser conseguidas por intermédio de uma espécie de "varinha mágica", conhecida como pedra filosofal.

O legado da alquimia serviu de base para a ciência autêntica que é a química hoje. Diversos processos químicos importantes já eram conhecidos séculos antes da alquimia atingir um estágio acerca do qual temos muitas informações. Trabalhos com tinturas e com metais eram fitos na Caldéia e no Egito a 2000 a.C.. Fabricava-se e coloria-se com perfeição o vidro, sendo empregado inclusive para imitar pedras preciosas.

Os alquimistas, herdeiros dessa rica herança, coziam e misturavam, combinavam e separavam, testavam e reexaminavam, sempre na busca da pedra mística. Os experimentos eram muito bem planejados e às vezes demorava ano para o término e nova frustração.

Alguns historiadores afirmam que eles realizavam experiências tão complexas quanto a dos químicos atuais. Seus métodos acompanhavam um modelo ordenadamente disposto e que abrangia 12 operações diferentes (destilação, filtração, etc). Visando preservar os seus segredos, os alquimistas escreviam seus documentos não com palavras, mas com símbolos cabalísticos.

O ramo sério da alquimia abrangia grandes intelectuais da época. Alberto Magno (1193-1280), e seu discípulo Tomás de Aquino foram autores de muitos trabalhos eruditos sobre a natureza. Conta-se que Alberto Magno afirmava poder transformar um dia de inverno num dia de primavera ou até mesmo de verão, de uma hora para outra. Uma lenda narra que Tomás de Aquino deu vida a uma estátua; depois, julgando-a inteligente em demasia, despedaçou-a.

Outro alquimista importante foi Bernado Trevisan. Nascido em 1406, filho de uma distinta família de Pádua (norte da Itália), cresceu escutando as histórias do avô sobre a grande investigação dos alquimistas e tornou-se alquimista. No interior escuro de um velho laboratório cheio de fornos, cadinhos, alambiques e vários tipos de folhas se inclina um velho (B. Trevisan) dedicado a endurecer 2000 ovos de galinha num enorme caldeirão de água fervente. Coloca cuidadosamente as cascas e as apilas em uma grande panela, esquenta-as numa chama suave até que se tornem brancas como a neve. Enquanto isso seu colaborador separa as claras das gemas e submete a putrefação, tudo isso em esterco de cavalo branco. Durante 8 anos, os estranhos produtos são destilados e redestilados para extrair um misterioso líquido branco e um azeite roxo, os quais Trevisan chamava de "dissolventes universais" e com os quais queria lograr a descoberta da "pedra filosofal". Mas no dia da prova definitiva, assim como para outros alquimistas que tentaram, novo fracasso. A pedra dos alquimistas não converteu um só dos metais comuns em ouro.

Trevisan, imperturbável diante do fracasso do experimento com as cascas de ovo, prosseguiu seu trabalho com paciência sobre humana. Passou a vida toda viajando o mundo e gastando seu dinheiro em busca da pedra filosofal. Depois de perder seus bens com trocas de informações com pessoas, que sabendo da fortuna de Trevisan apenas usufruíram da esperança deste homem, ele partiu na busca dos alquimistas autênticos. Passou pela Alemanha, Espanha e por último a França, onde conheceu o trabalho do maestro Enrique, o qual havia finalmente descoberto a fórmula secreta da pedra. Para Trevisan este não era farsante, mas sim um homem de Deus, que buscava sinceramente o germe do ouro.

Ambos esses sonhadores se juntaram e juraram amizade eterna, e chegou o dia em que um banquete seria oferecido a todos os alquimistas da região de Viena. Nesta ocasião foi arrecadado 42 marcos de ouro dos presentes e mais 5 do maestro Enrique, o qual prometeu quintuplicar as moedas num cadinho.

Enrique misturou azufre amarelo com umas gotas de mercúrio em uma redoma de vidro de forma estranha. Colocando a redoma a uma boa altura sobre o fogo, colocou lentamente uns poucos grama de prata e algo como azeite puro de oliva. Antes de fechar finalmente o recipiente de vidro com cinzas quentes e argila, colocou os 47 marcos de ouro. Esta estranha mistura foi colocada num crisol e colocada numa fogueira de fogo roxo. E enquanto os alquimistas comiam e bebiam cordialmente e falavam da grande busca dos sigilos, o cozimento da redoma fervia e borbulhava, desamparado no canto da cozinha. Pacientemente, os alquimistas esperaram que fosse aberta a redoma, mas o experimento resultou em fracasso. Trevisan, que havia desperdiçado 20 marcos de ouro emprestados, jurou nunca mais se volver a pensar na busca pela pedra filosofal. Mas depois de 2 meses de sofrimento, Trevisan volta a estudar a inquietante questão da transmutação dos metais em ouro, e morre frustado com mais de 70 anos de labor e dedicação a uma mesma causa. E quando Trevisan já estava moribundo numa cadeira de rodas ele disse: "Para fazer ouro, deve-se começar com ouro”.

Após 3 anos depois da morte de Trevisam nasce um importante alquimista da história, o qual foi o marco decisivo da virada da alquimia para a química, foi Paracelso (Philipus Aureolus Theofrastus Bombastus von Hohenheim Paracelsus, 1493-1541). Filho de um médico Suíço e ele mesmo professor de medicina, alem de alquimista. Conta-se que certa vez Paracelso queimou os antigos livros de medicina de Galeno e de Avicena, diante de uma turma de estudantes, em sinal de protesto contra as falsas premissas contidas nestas obras. Ele insistia em que os alquimistas deveriam desistir de procurar ouro e passassem a preparar remédios que ajudassem a curar as doenças.

Paracelso rejeitava a ciência médica clássica, dizia não ver utilidade nos conhecimentos acumulados anteriormente. Essa rejeição levou-o na direção dos saberes não-reconhecidos pela esfera da cultura de sua época. Foi muitas vezes chamado de louco, e nunca teve seus livros publicados, pois nenhuma editora o aceitava.

Por 10 anos Paracelso viajou pela Europa, matriculando-se e estudando nas melhores escolas daquela época. Tornou-se famoso e foi o introdutor da aplicação do ópio, compostos de mercúrio, enxofre, ferro e arsênio como medicamentos.

Os alquimistas foram com freqüência chamados de apóstolos da superstição. Mas não devemos esquecer que sem suas corajosas tentativas de resolver os mistérios da matéria a química talvez nunca tivesse nascido. Alguns dos aparatos e utensílios que constituem as ferramentas dos químicos de nossos laboratórios científicos foram introduzidos inicialmente pêlos alquimistas: capela, redoma de destilação, o banho Maria, a balança na sua forma mais primitiva, entre outras colaborações.

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